Hoje, Alegoria da Caverna é um tema que fascina pessoas de todas as idades e origens. Seja pela sua relevância histórica, pela sua influência atual ou simplesmente pela sua capacidade de surpreender e entreter, Alegoria da Caverna tornou-se um ponto de interesse para um vasto público. Neste artigo exploraremos em profundidade diferentes aspectos relacionados a Alegoria da Caverna, desde seu impacto na sociedade até sua evolução ao longo do tempo. Estaremos abordando diferentes perspectivas e opiniões para oferecer uma visão completa e enriquecedora deste fascinante tema.
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A alegoria da caverna, também conhecida como parábola da caverna, mito da caverna ou prisioneiros da caverna, é uma alegoria de intenção filósofo-pedagógica, escrita pelo filósofo grego Platão. Encontra-se na obra intitulada A República (Livro VII), e pretende exemplificar como o ser humano pode se libertar da condição de escuridão, que o aprisiona, por meio da luz da verdade, em que o filósofo discute sobre teoria do conhecimento, linguagem, educação e sobre um estado hipotético.
A alegoria é apresentada após a analogia do sol (508b-509c) e a analogia da linha dividida (509d-511e). As três se relacionam com a dialética, exposta no fim dos livros VII e VIII (531d-534e).
Pessoas acorrentadas, sem poderem se mover, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, sem poder ver uns aos outros ou a si próprios. Atrás dos prisioneiros há uma fogueira, separada deles por uma parede baixa, por detrás da qual passam pessoas carregando objetos que representam "homens e outras coisas viventes". As pessoas caminham por detrás da parede de modo que os seus corpos não projetam sombras, mas sim os objetos que carregam. Os prisioneiros não podem ver o que se passa atrás deles e veem apenas as sombras que são projetadas na parede em frente a eles. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.
Imagine que um dos prisioneiros seja libertado e forçado a olhar o fogo e os objetos que faziam as sombras (uma nova realidade, um conhecimento novo). A luz iria ferir os seus olhos e ele não poderia ver bem. Se lhe disserem que o presente era real e que as imagens que anteriormente via não o eram, ele não acreditaria. Na sua confusão, o prisioneiro tentaria voltar para a caverna, para aquilo a que estava acostumado e podia ver.
Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, os seus olhos, agora acostumados à luz, ficariam cegos devido à escuridão, assim como tinham ficado cegos com a luz. Os outros prisioneiros, ao ver isto, concluiriam que sair da caverna tinha causado graves danos ao companheiro e, por isso, não deveriam sair dali nunca. Se o pudessem fazer, matariam quem tentasse tirá-los da caverna.
Platão não buscava as verdadeiras essências na simples Phýsis, como buscavam Demócrito e seus seguidores. Sob a influência de Sócrates, ele buscava a essência das coisas para além do mundo sensível. E o personagem da caverna, que por acaso se liberte, corre como Sócrates, o risco de ser morto por expressar seu pensamento e querer mostrar um mundo totalmente diferente. Transpondo para a nossa realidade, é como se você acreditasse, desde que nasceu, que o mundo é de determinado modo, e então vem alguém e diz que quase tudo aquilo é falso, parcial, e tenta lhe mostrar novos conceitos, totalmente diferentes. Foi justamente por razões como essa que Sócrates foi morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando Platão à escrita da Alegoria da Caverna pela qual Platão nos convida a imaginar que as coisas se passassem, na existência humana, comparavelmente à situação da caverna: ilusoriamente, com os homens acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades.
Na alegoria, o Sol representa a Ideia do Bem (toú agathoú idéa), citada anteriormente em A República (7:517c) como sendo o conhecimento máximo (em grego, megiston mathema) que:[1]
"...quando vista, deve nos levar à conclusão de que esta é de fato a causa de todas as coisas, de tudo que tem de correto (orthós) e belo (kálos), dando à luz no mundo visível para a luz, e mestra da luz, a si mesma no mundo inteligível fonte autêntica da verdade (aletheia) e razão (nous), e qualquer um que agir sabiamente em particular ou público deve tomar vista disso"
Trata-se de um diálogo metafórico em que as falas na primeira pessoa são de Sócrates e seus interlocutores, Glauco e Adimanto, os quais são os irmãos mais novos de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua eterna busca da verdade.
O mito da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância,[2] isto é, a passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.
Segundo a metáfora de Platão, o processo para a obtenção da consciência, isto é, o conhecimento abrange dois domínios: o domínio das coisas sensíveis (eikasia e pístis) e o domínio das ideias (dianoia e noesis). Para o filósofo, a realidade está no mundo das ideias - um mundo real e verdadeiro - e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo das coisas sensíveis - este mundo -, no grau da apreensão de imagens (eikasia), as quais são mutáveis, não são perfeitas como as coisas no mundo das ideias e, por isso, não são objetos suficientemente bons para gerar conhecimento perfeitos. Inclusive, em 2016, neurocientistas chegaram a mesma conclusão de Platão relativo a percepção humana.[3]
A filósofa Iris Murdoch fornece uma interpretação da alegoria em sua obra A Soberania do Bem (1971):[4]
"A princípio, os prisioneiros da caverna encaram a parede dos fundos. Atrás deles arde uma fogueira a partir de cuja luz eles veem projetadas nas paredes as sombras de fantoches carregados entre eles e a fogueira, e assumem essas sombras como se fossem toda a realidade. Quando se viram, podem ver a fogueira, pela qual têm que passar para sair da caverna. Acredito que a fogueira representa o eu, a velha psique não regenerada, aquela grande fonte de energia e calor. Os prisioneiros no segundo estágio de iluminação adquirem o tipo de autoconsciência que hoje em dia suscita tanto interesse entre nós. Eles podem ver a si mesmos as fontes do que antes era um instinto egoísta cego. Veem as chamas que projetam as sombras que eles costumavam pensar reais, e em seguida podem ver os fantoches, imitações das coisas do mundo real cujas sombras eles aceitavam como verdadeiras. Ainda não sonham que haja algo mais para ver. Não é muito provável que se instalem ao lado da fogueira? Por mais que sua forma seja vacilante e imprecisa, a fogueira é fácil de olhar e confortável o bastante para que se sentem junto dela... A fogueira pode ser confundida com o Sol"
Este tema - realidade ou aparência - foi retomado ao longo da história da cultura ocidental por muitos filósofos e alguns escritores, embora com perspectivas distintas. Um deles foi Calderón de la Barca na obra A vida é sonho.
Exemplos mais modernos podem ser a série Persons Unknown, o livro Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932), o filme Matrix (Irmãs Wachowski, 1999) e também o livro A Ilha (Aldous Huxley). Outro autor que utilizou, parodicamente, essa parábola platônica foi o autor José Saramago, em seu livro A Caverna.
O filme O Show de Truman, e o filme O Quarto de Jack também utilizam a parábola platônica em seu enredo.