No mundo Ana (filme), existem inúmeros aspectos fascinantes e relevantes que merecem ser explorados e compreendidos. Desde o seu impacto na sociedade até à sua evolução ao longo do tempo, Ana (filme) capturou o interesse e a curiosidade de inúmeras pessoas em todo o mundo. Com uma história rica e variada, Ana (filme) continua a ser tema de debate e discussão em múltiplas áreas, desde a ciência e tecnologia à cultura popular e às artes. Neste artigo iremos nos aprofundar no fascinante mundo de Ana (filme), explorando suas origens, sua influência e sua relevância hoje.
![]() | A sinopse deste artigo pode ser extensa demais ou muito detalhada.Outubro de 2022) ( |
Ana | |
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![]() 1982 • cor • 115 min | |
Género | drama docuficção |
Direção | António Reis Margarida Cordeiro |
Produção | António Reis Margarida Cordeiro |
Coprodução | Paulo Branco |
Roteiro | António Reis Margarida Cordeiro |
Elenco | Ana Maria Martins Guerra Octávio Lixa Filgueiras |
Música | Johann Sebastian Bach |
Cinematografia | Acácio de Almeida Elso Roque |
Edição | António Reis Margarida Cordeiro |
Companhia(s) produtora(s) | Nacional Filmes Studios Billancourt Tobis Portuguesa Fundação Calouste Gulbenkian |
Distribuição | Filme Filmes |
Lançamento |
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Idioma | português |
Ana é um filme etnográfico (docuficção) português de 1982, realizado, escrito e produzido por António Reis e Margarida Cordeiro.[1][2][3] É protagonizado por Ana Maria Martins Guerra, mãe de Margarida Cordeiro, interpretando uma versão de si mesma. Com base nos poemas de Rainer Maria Rilke, a longa-metragem centra-se em três gerações de uma família transmontana: uma avó, um filho cientista que vive na cidade e passa férias na aldeia, e duas crianças (neto e neta).[4]
Ana foi exibido no Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz a 15 de setembro de 1982 e estreou-se nos cinemas de Portugal a 6 de maio de 1985.[5]
Tudo começou num dia “em que a neve e o vento eram mais puros”. Ana é o nome de uma velha, deixada em casa, ereta como um emblema. O seu rosto é sulcado e orgulhoso, o seu corpo pesado e digno. Ana é um pouco mais que uma avó e um pouco menos que um símbolo. Ana também é mulher e fica doente, mas não se deixa levar.
O filho de Ana, um antropólogo, dá uma longa palestra sobre a antiga história das jangadas na Mesopotâmia. A lembrança de Ana de um eclipse de há muito tempo atrás assombra-a como representante do fim das coisas. Ainda assim, na própria narrativa de Ana sobre o eclipse, numa passagem da "Terceira Elegia" de Rilke sobre sonhos febris primitivos, uma cena mostra a luz do sol através de um prisma num quarto escuro.[6]
Vestida com uma capa larga com franjas de pele de arminho, Ana atravessa o campo com uma elegância discreta, enquanto se ouve "Magnificat" de Bach. Vista por trás, a velha chama um nome: Miranda. O sangue sai de sua boca, ela olha suas mãos vermelhas, sabendo que vai morrer. Miranda é o nome da pequena vila mais próxima e o nome de uma vaca perdida que encontra de seguida. Existe o perigo de se morrer no campo, mas restará sempre a poesia.[7]
A longa-metragem foi produzida por Paulo Branco e José Mazeda, com a assistência de produção de Vítor Gonçalo e Carlos Gonçalo a partir de um patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian.[9] Ana foi distribuída em pela Filme Filmes em formato 35mm, cor.
Os processos criativos e produtivos adotados por António Reis e Margarida Cordeiro implicavam uma comunhão com as suas vidas privadas que se torna difícil separar a experiência cinematográfica das vivências pessoais e familiares. Os autores abordaram este projeto como um conjunto de referências das suas infâncias, sem que Ana fosse uma recriação fidedigna de acontecimentos das suas memórias. Nas palavras de Reis: "Toda essa memória foi absolutamente submetida a um processo imaginário, senão seria a ilustração de um fenómeno de memória, que estava num arquivo. Aliás o próprio tempo já se escorrega de esbater coisas, de alterar umas e de trazer outras…"[10] Tal resulta numa coleção de imagens mentais que, com recurso a poemas de Rainer Maria Rilke selecionados para o argumento, traçam um paralelo, no retrato simbólico, entre os personagens e o seu meio.[11]
Por este comprometimento pessoal e familiar se justificou a inclusão no elenco do filme a filha do casal, Ana Umbelina, e a mãe de Margarida Cordeiro, Ana Maria Martins Guerra, como protagonista. Ana foi filmada em três temporadas e cinco anos, processo que terminou em 1982. Foi produzido em moldes de extrema economia: filmado em 16 m/m, com uma equipa técnica restrita e atores não-remunerados.[12] Em entrevista Martins Guerra, destacou a exigência pedida para a rodagem, recordando que "por vezes fazíamos os mesmos planos 15 vezes, e isso era o pior".[13] Os autores consideraram que Ana foi o seu filme mais pensado, pelo seu domínio sobre a história dos locais de gravação e o envolvimento de colaboradores que os conheciam bem e os corrigiam. O processo de rodagem foi caracterizado pelo nível de exigência que os cineastas procuraram na dialética entre imagens e uma grande proximidade sonora primitiva (fogo, vento, inundação).[14]
Ana é um filme que parte de uma base do cinema de etnoficção, mas evolui para uma maior estilização do género. Críticos de cinema caracterizaram a longa-metragem de uma docufábula, por ser a mais ficcionada das fitas da dupla, ou pelo menos o seu filme onde quase existe um enredo.[6] Ainda assim, há uma continuidade artística com a primeira longa-metragem de Reis e Cordeiro, Trás-os-Montes. Tal é evidente numa cena em Ana, onde um etnólogo relaciona os antigos costumes de Trás-os-Montes com os da antiga Mesopotâmia, o que contribui para olhar interno sobre um terreno cujos habitantes são depósitos geológicos e cujas paisagens são filmadas como se fossem cidades.[14]
A figura e tema dominante da obra é a da Mãe, que domina o espaço da casa e a paisagem. O olhar dos autores centra-se numa idosa (avó e mãe) e em reminiscências de tudo o que os seus familiares viram, ouviram, tatearam e cheiraram. O filme explora a ideia de morte ser ressurreição através da memória e da saudade, nomeadamente através da sequência final do filme retratando o falecimento da protagonista no espaço oval do lago transmontano.[15]
Ana estreou-se a 15 de setembro na edição de 1982 do Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz, em Portugal, onde seria premiado. O filme viria a ser distribuído comercialmente no país três anos depois, com nova estreia a 6 de maio de 1985. Internacionalmente, Ana teve exibição comercial em Paris (França) durante três meses no Centro de Cultura Portuguesa da Fundação Gulbenkian. Também foi exibido na Alemanha, Áustria, Suíça e Bélgica.
O filme percorreu um longo circuito de Festivais internacionais de cinema nos anos que se seguiram à sua estreia em 1982. Nesse ano, esteve também presente nos Festivais Internacionais de Valladolid, Veneza, Festival de Montreal, de Bruxelas, Bois de la Batie, Antuérpia e Chicago. No ano seguinte estreou a 21 de fevereiro de 1983 no Berlin International Film Festival (Alemanha Ocidental). Ana viria a ser selecionado para os Festivais Internacionais de Hong-Kong, Roterdão, Tenerife, São Paulo, Locarno, Mannheim, Edimburgo, La Rochelle e Flandres. Na Semana dos Cahiers du Cinéma, integrou a retrospectiva de Digne (com Jaime e Trás-os-Montes).[16] A longa-metragem foi exibida nos Festivais de Genebra e Lausanne em 1985 e, em 1986, no Festival de Los Angeles.
Ana recebeu, de forma geral, comentários positivos pela crítica especializada. Na sua crítica, Eduardo Prado Coelho, considerou Ana o filme mais ambicioso de Cordeiro e Reis até a data, por um lado, por deixar aparentemente de ter objeto, e por outro, pela sua intenção de descoberta do homem português desembocar na sua relação com a terra, com o nascimento e a morte.[17] Desenvolvendo esta ideia, João Lopes (Diário de Notícias) destaca como o carácter cíclico do filme se enreda com o movimento da vida e da morte, das vidas e da mortes, perturbando a linearidade inicial do próprio espaço.[18]
José Gabriel Pereira Bastos (Jornal da Letras) caracteriza a longa-metragem de cinema da cumplicidade enigmática, onde é impossível separar-se o conteúdo, a forma e o clima, "a marca principal da radicalidade poética deste filme e o sinal que nos encontramos perante uma obra quase perfeita, na sua trabalhada imperfeição".[12] Em concordância, Cláudia Baptista (Jornal Se7e) escreve que este filme subverte o cinema estandardizado e os códigos de narração ortodoxos.[13] Nesse sentido, também José Vaz Pereira (A Capital) defende que este é o menos convencional dos filmes, por não respeitar nenhuma das regras a que a produção massificada foi pouco a pouco habituando o espetador, quase o amolecendo nas suas escolhas.[19] António Loja Neves (Revista Cinema) destaca igualmente o ritmo transmontano da longa-metragem, que acontece por herança da própria vida e do ambiente que retrata. Yann Lardeau (Cahiers du Cinema) elogia a equivalência simbólica colocada entre os seres vivos e a terra, entre o homem e a paisagem, concluindo que o filme é um meteoro de inspiração mística nas telas do cinema.[20]
Vários consideraram a obra cinematográfica uma obra também poética. Nomeadamente Jorge Leitão Ramos (Diário de Lisboa) escreve que tal como numa obra poética, Ana traz a "edificação de uma realidade que só é também a nossa porque, para que aconteça, é preciso que fale de algo de essencial: amor, morte, espantos."[21] Também Miguel Esteves Cardoso (O Sete) escreve que o que o filme tem de poético é "o ato de pacientemente ter procurado apanhar uma essência, o trabalho de riscar a superfície e desbastar e escanhoar uma matéria bruta até revelar o seu segredo, que não é segredo nenhum, porque o somos e pisamos sempre – portugueses, e Portugal".[22]
Ana, fascinou e influenciou vários cineastas contemporâneos, como Jean Rouch, Jacques Rivette e Joris Ivens. Sobre o filme, Ivens admira o modo como os realizadores utilizam o vento como elemento dramático e não como um artifício.[23] Em conjunto com a filmografia de António Reis e Margarida Cordeiro, Ana revelou-se uma obra radical e decisiva para a identidade do cinema contemporâneo português, encontrando seguidores em Pedro Costa, João Cesar Monteiro e João Pedro Rodrigues.[24]
Ao longo do circuito de Festivais internacionais de cinema para o qual foi selecionado, Ana valeu aos autores inúmeros prémios e nomeações, como a Espiga de Ouro do Festival de Valhadolide. O filme foi escolhido para representar Portugal na competição do Óscar de melhor filme estrangeiro da edição de 1986.[25]
Ano | Prémios | Categorias | Destinatários e nomeados | Resultado | Referências |
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1982 | Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz | Menção Especial | Ana | Venceu | [26][27][25] |
Semana Internacional de Cinema de Valhadolide | Espiga de Ouro | Ana | Venceu | ||
1983 | Academia Francesa | Prémio René Clair | Ana | Indicado | |
Academia do Cinema Italiano | Prémio David di Donatello | Ana | Indicado | ||
1985 | Prémios Nova Gente | Melhor realização | António Reis e Margarida Cordeiro | Venceu | |
Melhor atriz revelação | Ana Maria Martins Guerra | Venceu | |||
Melhor ator revelação | Manuel Ramalho Eanes | Venceu | |||
Prémios Se7es de Ouro | Melhor realização | António Reis e Margarida Cordeiro | Venceu | ||
Melhor direção de fotografia | Acácio de Almeida e Elso Roque | Venceu | |||
Melhor atriz revelação | Ana Maria Martins Guerra | Venceu |
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