Guerra

Guerra medieval no ano de 1066

A Guerra é um conflito armado entre estados, governos, sociedades ou grupos paramilitares, como mercenários, insurgentes e milícias. Geralmente é caracterizada por extrema violência, agressão, destruição e mortalidade, usando forças militares regulares ou irregulares. A guerra refere-se às atividades e características comuns dos tipos de guerra, ou das guerras em geral. Guerra total é uma guerra que não se restringe a alvos militares puramente legítimos e pode resultar em sofrimento e baixas em massa de civis ou outros não-combatentes.

Enquanto alguns estudiosos da guerra consideram a guerra um aspecto universal e ancestral da natureza humana, outros argumentam que é resultado de circunstâncias socioculturais, econômicas ou ecológicas específicas.

A guerra pode acontecer entre países ou entre grupos menores como tribos ou facções políticas dentro do mesmo país (confronto interno). Em ambos os casos, pode-se ter a oposição dos grupos rivais isoladamente ou em conjunto. Neste último caso, tem-se a formação de aliança(s).

Podem ser consideradas como algumas das maiores guerras travadas pela humanidade a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial.

Etimologia

O substantivo "guerra" deriva do vocábulo do frâncico werra, que significa "peleja".

História

A percentagem de homens mortos em guerra no século XX Inscrição egípcia sobre a guerra

A evidência mais antiga de guerra pré-histórica é um cemitério mesolítico em Jebel Sahaba, que foi determinado ter aproximadamente 14 000 anos. Cerca de quarenta e cinco por cento dos esqueletos apresentavam sinais de morte violenta. Desde a ascensão do estado, cerca de 5 000 anos atrás, a atividade militar ocorreu em grande parte do globo. O advento da pólvora e a aceleração dos avanços tecnológicos levaram à guerra moderna.

A guerra sempre foi alvo de intensos estudos ao longo da história. Um dos tratados mais conhecidos sobre a guerra é de um estrategista militar chinês chamado Sun Tzu em seu conhecido como A Arte da Guerra, é entendido como o tratado mais antigo sobre esse assunto.

Ao longo da borda de uma lagoa seca no leste da África, pesquisadores descobriram o esqueleto do mais antigo exemplo conhecido de uma guerra em pequena escala. Em um ataque planejado, os atacantes mataram 12 caçadores-coletores em algum momento entre 9 500 e 10 500 anos atrás.

Alexandre, o Grande, ordenou que todos os seus soldados raspassem a cabeça e o rosto. Ele acreditava que a barba e cabelos longos poderiam facilitar a tentativa de uma degolada.

No Japão feudal, o Exército Imperial tinha soldados especiais cuja única missão era contar o número de cabeças de inimigos cortadas em cada batalha, para fins matemáticos e estatísticos censitários - estratégicos.

Zonas do Mundo onde ocorrem atualmente conflitos armados (dados de 2019/2018 dependendo do país):   10 000 ou mais   1 000–9 999   100–999   1–99

A guerra mais rápida da história durou 37 minutos: no dia 27 de agosto de 1896, uma esquadra inglesa decidiu ancorar no porto de Zanzibar, na África, para assistir a uma partida de críquete. O sultão de Zanzibar não gostou e mandou que seu único navio atacasse os ingleses. Quando o navio abriu fogo, os ingleses o afundaram rapidamente e ainda destruíram o palácio do sultão, matando quinhentos soldados. Zanzibar se rendeu na hora e o sultão fugiu para a Alemanha.

Durante a história humana, ocorreram conflitos de larga escala, principalmente a partir do século XX, vejamos:

Mortes globais em conflitos desde 1400

Efeitos

Baixas militares e civis na história humana recente

número médio de pessoas que morrem de guerra por 100 000 habitantes em 2004   sem informações   menos que 100   100–200   200–600   600–1000   1000–1400   1400–1800   1800–2200   2200–2600   2600–3000   3000–8000   8000–8800   mais que 8800

Ao longo da história humana, o número médio de pessoas que morrem de guerra oscilou relativamente pouco, sendo cerca de 1 a 10 pessoas morrendo por 100 000. No entanto, grandes guerras em períodos mais curtos resultaram em taxas de baixas muito mais altas, com 100-200 baixas por 100 000 em alguns anos. Embora a sabedoria convencional sustente que as baixas aumentaram nos últimos tempos devido a melhorias tecnológicas na guerra, isso geralmente não é verdade. Por exemplo, a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) teve aproximadamente o mesmo número de baixas per capita que a Primeira Guerra Mundial, embora tenha sido maior durante a Segunda Guerra Mundial.(Segunda Guerra Mundial). Dito isto, em geral, o número de vítimas da guerra não aumentou significativamente nos últimos tempos. Muito pelo contrário, em escala global, o tempo desde a Segunda Guerra Mundial tem sido incomumente pacífico.

Motivações

Toda guerra tem diversas causas, mas geralmente é possível identificar uma causa principal. Às vezes é difícil distinguir as causas reais de uma guerra, das justificativas e discursos adotados pelos atores envolvidos na guerra. As guerras totais geralmente envolvem várias das causas apresentadas a seguir, simultaneamente.

Dificuldades para analisar a complexidade cultural e social em determinados conflitos geraram alguns dos maiores desastres humanitários do século, como na Guerra Civil em Ruanda. Conflitos em que se usa a motivação étnica como justificativa são encontrados principalmente em países que foram colônias durante os séculos XIX e XX, onde o Estado Nacional ainda não se estruturou por completo nem há uma clara identidade nacional além dos laços familiares, de clãs ou étnicos.

Ética

Manhã após a Batalha de Waterloo por John Heaviside Clark, 1816

A moralidade da guerra tem sido objeto de debate há milhares de anos.

Os dois principais aspectos da ética na guerra, segundo a teoria da guerra justa, são o jus ad bellum e o jus in bello.

Questões humanitárias

A Primeira Guerra Mundial matou mais de 16 milhões de pessoas. A Segunda Guerra, mais 70 milhões. Segundo a ciência econômica convencional, a guerra desgasta a economia.

A quantidade de conflitos e o grande desenvolvimento dos meios de comunicação no século XX permitiram sensibilizar populações de diversos países sobre os problemas ocorridos principalmente durante a Guerra Fria e nos anos que a seguiram. Missões de paz tornaram-se cena comum, apesar dos diversos problemas enfrentados.

Hoje, o principal produto das guerras, além da destruição, é o grande número de refugiados. A situação dos refugiados nos seus próprios países é precária e insegura.

Tipos de guerras

Varsóvia em ruínas como resultado da Segunda Guerra Mundial

Existem diferentes formas de classificação, sendo: segundo as causas, o desenvolvimento, a intensidade, a abrangência geográfica ou a estratégia e o tipo de armamento principal utilizado. Algumas guerras podem ser incluídas em mais de uma modalidade, quando se considera elementos como a escala geográfica ou a escala de intensidade do conflito, ou ainda as causas ou origem da conflagração. É sempre interessante notar que geralmente uma guerra possui várias causas, ou seja, causada por variáveis distintas mas simultâneas. Raramente uma guerra tem uma única causa. Porém, Sun Tzu, em seu tratado A Arte da Guerra, alerta que todas são de conquista.

Modalidades de guerra segundo a intensidade do confronto

Modalidades de guerra segundo a abrangência do conflito

Clausewitz dividia o estudo da Guerra em dois níveis, sendo o primeiro nível aquele da Guerra Total (virtual) e da Guerra Absoluta (forma de guerra total real ou possível), e o segundo nível, o da Guerra Regional, ou de delimitação de fronteiras.

Considerando-se apenas a área de abrangência, as guerras modernas poderiam ser divididas em 3 níveis: Local, Regional e Global. Considerando-se simultaneamente a área geográfica de abrangência e a intensidade do confronto militar, pode-se dividir uma guerra em até 4 níveis: Guerra Mundial, Guerra Continental ou Guerra Inter-regional, Guerra Regional e Guerra Local Guerra Inter-regional.

Modalidades de guerra segundo a forma ou desenvolvimento do confronto

Modalidades de guerra segundo a causa do confronto bélico, ou causus belis

Modalidades de guerra segundo o tipo de armas estratégicas utilizadas

Os conflitos no tempo de acordo com os níveis técnicos

Pré – 1914

Combate próximo, de fogo com mistura de armas e/ou cargas de baioneta. Uso de cavalaria para reconhecimento e eventuais cargas rápidas. Artilharia como apoio à tropa. No mar, grandes encouraçados e duelos de artilharia.

Guerras Mundiais 1914-1945

Início da mecanização da guerra, com o desenvolvimento de tanques de guerra e outros carros de combate.

A Primeira Guerra foi basicamente uma guerra de posições (trincheiras).

A Segunda Guerra foi uma guerra de manobras. O desenvolvimento dos veículos permitiu mais mobilidade, a força aérea iniciou os bombardeios estratégicos.

Apesar das diferenças táticas e tecnológicas, os conflitos foram bastante semelhantes, com muito contacto próximo.

Guerra Fria

Neste período, foram aperfeiçoadas diversas invenções da Segunda Guerra, tais como: mísseis balísticos, propulsão a jato, helicópteros e o armamento nuclear. (ver também: Guerra Fria Árabe)

Os conflitos deste período apresentam grande variedade técnica. Países pobres ou grupos guerrilheiros utilizaram armamento pouco superior ao visto no período anterior. Armas leves, minas terrestres e técnicas de guerrilha foram comuns. Países ricos mantiveram seu arsenal atualizado e adaptaram suas táticas e estratégias aos novos armamentos disponíveis.

Televisão e satélites passaram a influenciar os conflitos. As imagens mobilizaram a opinião pública, os satélites revolucionaram a análise de dados e a captação de informações.

Nova ordem mundial

o colapso soviético gerou a desmobilização de diversos exércitos, mas também causou conflitos. Informática, armamento nuclear tático, mísseis e bombas "inteligentes" guiados por satélite, GPS ou laser passaram a ser usados para reduzir o custo humano entre os exércitos de países ricos. A tendência para estes países é abandonar os grandes contingentes visando a maior utilização das chamadas "tropas especiais" ou "tropas de elite". Estas tropas atuam em números menores, amplamente amparadas pela tecnologia e são treinadas especialmente para missões em guerras irregulares.

Para os países pobres, continuam valendo os níveis técnicos inferiores. Não há uma regra, conflitos podem ser travados com facções ou metralhadoras, mas raramente apresentam blindados, aviação e marinha. Tais elementos aparecem apenas em pequenas quantidades.

Ver também

Notas

  1. O termo "conflito armado" é usado em vez de, ou em adição ao termo "guerra", sendo o primeiro de escopo mais geral. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha diferencia entre conflito armado internacional e não internacional em sua definição: "Os conflitos armados internacionais existem sempre que há recurso à força armada entre dois ou mais Estados .... Conflitos armados não internacionais são confrontos armados prolongados que ocorrem entre as forças armadas governamentais e as forças de um ou mais grupos armados, ou entre esses grupos que surgem no território de um Estado . O confronto armado deve atingir um nível mínimo de intensidade e a partes envolvidas no conflito devem mostrar um mínimo de organização."

Referências

  1. «How is the Term "Armed Conflict" Defined in International Humanitarian Law?» (PDF). International Committee of the Red Cross. Março de 2008 
  2. «Warfare». Cambridge Dictionary. Consultado em 1 de agosto de 2016 
  3. Šmihula, Daniel (2013): The Use of Force in International Relations, p. 67, ISBN 978-80-224-1341-1.
  4. James, Paul; Friedman, Jonathan (2006). Globalization and Violence, Vol. 3: Globalizing War and Intervention. London: Sage Publications 
  5. Infopédia. «guerra | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 30 de dezembro de 2022 
  6. Keeley, Lawrence H: War Before Civilization: The Myth of the Peaceful Savage. p. 37.
  7. Diamond, Jared, Guns, Germs and Steel
  8. a b «Guerras: os conflitos armados que marcaram a História». Brasil Escola. Consultado em 6 de maio de 2022 
  9. Attack 10,000 years ago is earliest known act of warfare Hunter-gatherers’ skeletons show signs of being shot by arrows, clubbed and maybe even bound por BRUCE BOWER na "Science News"(2016)
  10. «Guerra mais curta da história durou menos de uma hora». History Channel Brasil. 10 de julho de 2020. Consultado em 15 de março de 2024 
  11. Roser, Max (15 de novembro de 2017). «War and Peace». Our World in Data. Consultado em 15 de novembro de 2017 
  12. «Mortality and Burden of Disease Estimates for WHO Member States in 2004». World Health Organization 
  13. «War and Peace». Our World in Data. Consultado em 16 de novembro de 2017 
  14. a b KLARE, Michael T. (2001) Resource Wars: The New Landscape of Global Conflict. Owl Books: Nova Iorque, EUA.
  15. GALVÃO, Denise L. Camatari (2005) "Conflitos armados e recursos naturais: as 'novas' guerras na África". Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais. UnB, Brasília, DF. 215 p.
  16. GALVÃO, Denise L. C. (2007). "Diamantes de Sangue: o conflito armado em Serra Leoa". InfoREL, 12/06/2007.
  17. ZIMERMAN, Artur (2006). Peguem a foice e vamos à luta: questões agrárias como determinantes do início de guerra civil, análise global, 1969-1997. Tese de Doutorado em Ciência Política, USP, São Paulo, SP.
  18. DeForrest, Mark Edward. «Conclusion». JUST WAR THEORY AND THE RECENT U.S. AIR STRIKES AGAINST IRAQ. Gonzaga Journal of International Law. Consultado em 1 de agosto de 2011. Arquivado do original em 2 de abril de 2010 
  19. DeForrest, Mark Edward. «GENERALLY RECOGNIZED PRINCIPLES OF JUST WAR THEORY»  Em falta ou vazio |url= (ajuda)
  20. Why We Fight Wars The New York Times, 2014, Paul Krugman
  21. MARTINS, José M.Q. (2008). "Digitalização e guerra local: fatores do equilíbrio internacional". Tese de Doutorado em Ciência Política, UFRGS, Porto Alegre, 2008. pg. 11-14.
  22. CHANDRAN, Suba (2005). "Limited War: Revisiting Kargil in the Indo-Pak Conflict". India Research Press: Nova Deli, India.
  23. CHANDRAN, Suba (2004). "Limited War with Pakistan: Will It Secure India’s Interests?" Arquivado em 5 de julho de 2010, no Wayback Machine.. ACDIS Occasional Paper. Program in Arms Control, Disarmament, and International Security (ACDIS), University of Illinois.
  24. CASTELLANO DA SILVA, Igor & SARAIVA, Fernando (2009). Ineficiência do Estado: o papel da guerra e dos recursos naturais na República Democrática do Congo. Revista Perspectiva, vol. 2, p. 27-46, Porto Alegre, RS.
  25. MARTINS, José M.Q. (2008). pg. 11-14, op. cit.
  26. MARTINS, José M.Q. (2008). op. cit.
  27. OLIVEIRA, Lucas K. (2009). "Segurança Energética no Atlântico Sul: Análise Comparada dos Conflitos e Disputas em Zonas Petrolíferas na América do Sul e África". XXXIII Encontro da ANPOCS, Caxambu, MG.
  28. a b SEBBEN, Fernando D.O. (2007). Separatismo e Hipótese de Guerra Local na Bolívia: Possíveis Implicações para o Brasil. Monografia de Graduação em Relações Internacionais. UFRGS, Porto Alegre, 2008.
  29. OLIVEIRA, L.K.(2009) op. cit.
  30. ZIMERMAN, Artur (005). "Revisão bibliográfica da literatura quantitativa sobre os determinantes de guerra civil". BIB Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, São Paulo, v. 60, n. 2 semestre, p. 65-85.
  31. YLÖNEN, Aleksi (2005) "Sudan: Lo local, lo regional y lo internacional en los conflictos civiles" Arquivado em 21 de junho de 2010, no Wayback Machine. Revista Pueblos, nº 18, p. 31-33, Setembro de 2005.
  32. CEPIK, Marco A. C. & OLIVEIRA, Lucas K. (2007) "Petróleo e Guerra Civil no Sudão". Radar do Sistema Internacional, RSI. p. 1-6.
  33. CEPIK, Marco A. C. & OLIVEIRA, Lucas K. (2007) "Petróleo e Insurgência Armada na Nigéria". Radar do Sistema Internacional, RSI, p. 1-11.
  34. SEBBEN, Fernando D. O. (2008) "Secessão Boliviana: Um Estudo de Caso sobre Conflito Regional". I Seminário Nacional de Ciência Política da UFRGS, 2008, Porto Alegre, RS. p. 1-22
  35. Piratas no Atlântico Sul - Ernesto Reis - Editora Giostri - 2012
  36. LIEBER, Keir A. & PRESS, Daryl G. (2006) "A ascensão da supremacia nuclear dos Estados Unidos". Revista Política Externa, v. 15, nº 1, jun/jul/ago, p. 47-56.
  37. CEPIK, Marco A. C; MARTINS, Jose Q. M. & ÁVILA, Fabrício S. (2008) "Segurança Internacional: Desafios para as Próximas Décadas na Esfera da Estratégia" Arquivado em 24 de julho de 2011, no Wayback Machine. II Encontro Nacional da ABED.
  38. JESUS, Diego S.V. (2008) "Treze passos para o Juízo Final: A Nova Era do Desarmamento Nuclear dos Estados Unidos e da Rússia" Arquivado em 6 de julho de 2011, no Wayback Machine. Revista Contexto Internacional, vol. 30, n.2, p. 399-466.
  39. AVILA, Fabrício S.; MARTINS, José Miguel & CEPIK, Marco(2009) "Armas estratégicas e poder no sistema internacional: o advento das armas de energia direta e seu impacto potencial sobre a guerra e a distribuição multipolar de capacidades". Contexto Internacional, vol.31, n.1, p. 49-83.
  40. LIND, W. (2005) "Compreendendo as Guerras de Quarta geração" Arquivado em 22 de maio de 2011, no Wayback Machine. Military Review (port.), pg. 12-17.
  41. Paul A. Smith. On political war. National Defense University Press, 1989, (em inglês) pág. 7. Adicionado em 23/06/2019.

Bibliografia

Ligações externas