Franz-Wilhelm Heimer

Franz-Wilhelm Heimer

Franz-Wilhelm Heimer (Dortmund, 12 de abril de 1930) é um cientista social alemão cujo trabalho incide principalmente na África e em países lusófonos.

Biografia

Filho de um professor de ensino básico, Franz-Wilhelm Heimer passou a infância e juventude na Renânia (Alemanha), nas pequenas cidades de Brühl e de Frechen, situadas a próximidade de Colônia. Foi nesta última cidade que frequentou o ensino secundário, filiando-se no "Bund Neudeutschland" que viria a ser a vertente alemã da Juventude Estudantil Católica. A partir de 1950 Franz-Wilhelm Heimer estudou letras românicas e anglo-saxónicas, filosofia e pedagogia na Universidade de Colónia. Como bolseiro do governo francês esteve durante o ano de 1955/56 em Paris onde preparou na Université de Paris I uma tese de licenciatura sobre as particularidades da linguagem dos movimentos de juventude franceses. Em simultâneo trabalhou na central da Juventude Estudantil Católica Internacional, desempenhando as funções de Secretário Europeu. Em 1958 concluiu a sua licenciatura em Colónia e, depois de dois anos de estágio profissional, também em Colónia, fez em 1960 o exame de estado para efeitos de qualificação como professor de ensino secundário.

Nesta categoria profissional entrou para o serviço do Estado de Renânia do Norte-Vestfália, sendo colocado em Duisburg. Já em inícios de 1961 assumiu - com o apoio do serviço alemão de intercâmbio académico (DAAD) - as funções de leitor de alemão na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (hoje com a designação "Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas" (IBILCE, campus da Universidade Estadual Paulista, UNESP)) em São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, Brasil). Em paralelo, participou no movimento político-social Ação Popular, promovendo neste quadro iniciativas locais de alfabetização de adultos, seguindo a orientação e metodologia do educador brasileiro Paulo Freire.

No momento do golpe militar de 1964, fez parte do grupo de docentes e estudantes da Faculdade que, acusados de “subversivos”, foram presos durante várias semanas pela polícia política. Libertado após intervenção diplomática, mas proibido de retomar a sua actividade em São José do Rio Preto, passou a assumir a direcção da filial do Goethe-Institut em Belo Horizonte, sendo responsável pelas actividades em Minas Gerais, em Espírito Santo e em Brasília. Face aos imponderáveis da ditadura militar estabelecida no Brasil, decidiu voltar para a Alemanha já em 1965. Deixando o serviço do Estado de Renânia do Norte–Vestfália, aceitou o convite para tornar-se investigador do Arnold-Bergstraesser-Institut für kulturwissenschaftliche Forschung (ABI), ligado à Universidade de Freiburg.

A partir de então, e em consonância com a vocação daquele instituto, a sua área central de trabalho tem sido a dos problemas de desenvolvimento do Terceiro Mundo. Durante uma década, o seu interesse principal situou-se em torno da relação entre educação e desenvolvimento, o que o levaria a integrar o correspondente departamento no ABI, cuja coordenação lhe foi confiada. Em termos regionais, concentrou-se inicialmente na América Latina, com destaque para o Brasil. Para além dos seus estudos pode ser referida a sua tradução para o alemão, juntamente com Johannes Augel, do livro „Revolução para a paz“, do falecido bispo brasileiro, defensor da teologia da libertação, Dom Hélder Câmara. Nos anos 1960/1970 efectuou viagens de estudo a uma série de países latino-americanos , nomeadamente Brasil, Argentina, Chile, Peru, Equador, Panamá, Costa Rica, República Dominicana e Venezuela. No entanto, rapidamente deslocou a sua atenção para a África ao Sul do Saara - numa primeira fase para a África Central (Ruanda, Burundi, Congo-Brazzaville e Congo-Kinshasa), e a seguir para a África Austral (especialmente Angola e Moçambique). Neste último contexto fundou e dirigiu nos anos 70 o Arbeitskreis Portugiesischsprachiges Afrika (APSA), um fórum de debate em língua alemã sobre os cinco países africanos de língua oficial portuguesa, com participação de especialistas de diferentes países, inclusive africanos. Em 1980 organizou em Bad Homburg a primeira conferência científica internacional sobre o conjunto dos cinco países realizada depois da sua descolonização em 1974/75. A sua concentração nos países lusófonos não o impediu, no entanto, de manter o seu interesse pelo conjunto da África ao Sul do Saará que o levou a estadias de contacto e de pesquisa numa série de países, nomeadamente o Burkina Faso, mas também a África do Sul, a Costa de Marfim (Côte d'Ivoire), a Nigéria, o Quénia, o Senegal, a Suazilândia e o Uganda,

Paralelamente à sua investigação estudou Ciência política, Sociologia e Ciências da educação na universidade de Freiburg, obtendo nestes domínios, em 1979, o doutoramento com uma dissertação sobre o processo de descolonização em Angola - país onde havia realizado várias estadias de pesquisa entre 1967 e 1974. A análise proposta nesta obra parte de uma tentativa de compreender a génese e estrutura das formações sociais abrangentes que se constituíram em África nos territórios arbitrariamente delimitados pelas potências coloniais. A preocupação com estas formações sociais e as suas transformações pós-coloniais tornar-se-ia uma constante do seu trabalho.

Após o doutoramento, e mantendo o seu estatuto de investigador, exerceu durante um ano funções docentes em ciência política e ciências da educação, respectivamente na Universidade de Freiburg e na Universidade de Frankfurt. Em fins de 1980 aceitou - com o apoio do DAAD - o convite de Adérito Sedas Nunes, então Ministro da Cultura e Ciência do Governo Português, para responsável pela cadeira de sociologia do desenvolvimento no ISCTE-IUL, o instituto universitário autónomo de ciências sociais. tecnológicas e empresariais de Lisboa. Inicialmente professor visitante, assumiu em 1982 um compromisso a longo prazo, sendo nomeado professor catedrático convidado.

Desde cedo, a sua prioridade tornou-se a constituição, no quadro do ISCTE-IUL, de um domínio de estudos africanos em ciências sociais. Com Mário Murteira promoveu, em 1981, a criação, pelo ISCTE-IUL, do Centro de Estudos Africanos (CEA), hoje a maior unidade universitária desta natureza em Portugal, que coordenou/dirigiu durante muitos anos. Neste contexto, esteve na origem da organização, em 1989, de um curso de pós-graduação em estudos africanos, transformado em mestrado em 1991. Por sua iniciativa, o ISCTE-IUL criou, em 1995, a Área Científica de Estudos Africanos, a que presidiu, e que assumiu a responsabilidade académica pelo mestrado em estudos africanos bem como, em 1996, pelo primeiro doutoramento em estudos africanos em Portugal. Em 2002 articulou uma iniciativa conjunta do CEA com outros centros similares, que redundou na constituição, inicialmente sob a sua direcção, de uma Biblioteca Central de Estudos Africanos, sediada no ISCTE-IUL. A partir do fim dos anos 80 organizou ou coorganizou, em Lisboa, Bad Homburg vor der Höhe, Bissau e Maputo, diferentes conferências internacionais ligadas a temáticas africanas. Teve um papel de relevo no lançamento, em 2001, da revista Cadernos de Estudos Africanos, do Centro de Estudos Africanos. Em conjugação com as suas actividades ligadas ao CEA, empenhou-se a favor do desenvolvimento dos estudos africanos em Portugal e da sua inserção em redes internacionais, informais e institucionalizadas. Neste último domínio, promoveu em especial a presença dos centros portugueses de estudos africanos no AEGIS, a rede europeia de estudos africanos, a cuja direcção pertenceu durante vários anos. Em 1989/90 passou um ano sabático no Deutsches Institut für Internationale Pädagogische Forschung (DIPF, instituto alemão de investigação pedagógica internacional) de Frankfurt, aproveitando infraestrutura e contactos para o desenvolvimento dos seus estudos.

As suas pesquisas, que o levaram a estadias em vários países latino-americanos e numa vintena de países africanos, passaram a incidir dominantemente nos países africanos de língua oficial portuguesa. Dos anos 1970 aos anos 2000 realizou repetidas estadias de estudo e investigação em todos os Cinco. Os seus trabalhos situaram-se sempre numa perspectiva interdisciplinar, pondo a proveito contribuições oriundas não apenas da ciência política e da sociologia, como também da antropologia e da economia, da história e da psicologia social. É esta a perspectiva seguida pelos projectos de investigação que dirigiu e cujo corpo de investigadores foi no essencial constituído por investigadores africanos. Nos seus trabalhos pessoais, regista-se um destaque crescente para os aspectos da cultura política e das identidades sociais.

Escritos (selecção)

Referências

  1. Ver http://iycs-jeci.org
  2. Ver http://ibilce.unesp.br/clipping/120807.php
  3. A título de reconhecimento, colegas portugueses dedicaram-lhe a colectânea Clara Carvalho & João de Pina Cabral (orgs.), A persistência da história: passado e contemporaneidade em África, Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2004. Ver recensão em http://www.lusotopie.sciencespobordeaux.fr/2006_1_p_187.pdf
  4. biográficas encontram-se nalguns dos websites adiante listados, e em vários sítios como http://www.columbia.edu/cu/web/data/indiv/area/idass/HEIMER,Franz_Wilhelm.htm, localizáveis por "motores de busca". Ver também a primeira referência bibliográfica.

Ligações externas

Literatura de e sobre Franz-Wilhelm Heimer (em alemão) no catálogo da Biblioteca Nacional da Alemanha