Opiáceo

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Os opiáceos são substâncias derivadas do ópio e, portanto, estão incluídos na classe dos opioides - grupo de fármacos que atuam nos receptores opioides neuronais. Eles produzem ações de insensibilidade à dor (analgesia) e são usados principalmente na terapia da dor crônica e da dor aguda de alta intensidade. Produzem em doses elevadas euforia, estados hipnóticos e dependência e alguns (morfina e heroína) são usados como droga recreativa de abuso.

Farmacologia

Os opioides são agonistas dos receptores opioides encontrados nos neurônios de algumas zonas do cérebro, medula espinal e nos sistemas neuronais do intestino.

Os receptores opioides são importantes na regulação normal da sensação da dor. A sua modulação é feita pelos opioides endógenos (fisiológicos), como as endorfinas e as encefalinas, que são neurotransmissores.

Existem três tipos de receptores opioides: mu, delta e kappa. Os receptores μ (mu) são os mais significativos na acção analgésica, mas os δ (delta) e κ (kappa) partilham de algumas funções. Cada tipo de receptor é ligeiramente diferente do outro e, apesar de alguns opioides ativarem todos de forma indiscriminada, já foram desenvolvidos alguns que ativam apenas um subtipo. Em 1981, foi identificado o receptor delta, que não é ativado por opioides endógenos; por isso, ele é desconsiderado.

Os opioides endógenos são péptidos (pequenas proteínas). Apesar de não serem proteínas, os fármacos opioides usados em terapia têm, em solução, conformações semelhantes às dos opioides endógenos, ativando os receptores em substituição a estes.

Efeitos farmacológicos

Os efeitos farmacológicos dos opioides podem ser úteis ou adversos, conforme a dose e situação. Cada fármaco pode produzir efeitos de intensidade diferente conforme a sua especificidade para uns ou outros receptores, e outras características. Os opioides, através de seus receptores acoplados à proteína G, inibem a adenilato ciclase, reduzindo assim o conteúdo intracelular de AMPc. Também exercem efeito em canais catiônicos, pois promovem a abertura dos canais de potássio e inibem a abertura dos canais de Cálcio dependentes de voltagem. Assim, reduzem tanto a excitabilidade neuronal como a liberação de neurotransmissores.

No sistema nervoso central

Trato gastrointestinal

Também existem receptores opioides em alguns neurônios dos sistemas nervosos autônomos do intestino (plexo de Auerbach e plexo de Meissner)

Usos clínicos

Como droga de abuso

Os opioides apresentam duas características que os tornam drogas de abuso particularmente perigosas: produzem euforia e bem-estar, mas a sua ação necessita de doses cada vez maiores para que os efeitos sejam mantidos num determinado nível - fenómeno de tolerância.

O opioide de abuso mais utilizado hoje é a heroína, um derivado da morfina com praticamente os mesmo efeitos mas com maior solubilidade aquosa (o que facilita o seu consumo). É consumida pela injeção intravenosa com agulha. Esta forma de consumo leva a uma rápida elevação das concentrações sanguíneas, e resulta numa ação inicial muito mais forte de satisfação intensa, seguida de um potencial de ação mais moderada e cada vez mais fraca.

A tolerância aos opioides leva o consumidor recreativo a consumir doses cada vez maiores. Estas provocam alterações bioquímicas temporárias ou permanentes no cérebro. Julga-se que a produção ou sensibilidade às endorfinas e encefalinas, opioides naturais no ser humano, são reduzidas, e o individuo passa a necessitar de doses de opioide exógeno cada vez maiores apenas para se sentir normal. Quase todos os efeitos do opioide manifestam tolerância, logo um consumidor de altas doses injeta quantidades de heroína que seriam mortais para um não consumidor devido à parada respiratória. O consumo de heroína leva à dependência física e psicológica.

A dependência física é uma consequência inevitável e universal para o consumidor de heroína. É fisiologicamente impossível de se evitar com o consumo regular. A cessação do consumo leva a síndrome de abstinência. Caracteriza-se por tremores, ereção dos pelos ("pele de galinha"), suores abundantes, respiração rápida, temperatura elevada, ansiedade, hostilidade, vómitos e diarreia. Um sinal importante é a midríase (dilatação da pupila). Estes sinais só desaparecem com a administração de um opioide, geralmente de forma instantânea. É apenas possível para o consumidor crónico parar de consumir opioides evitando a dependência física se houver consumo cada vez de doses apenas um pouco menores do fármaco, sem nunca aumentar a quantidade.

A dependência psicológica é subjetiva e é devido à memória do prazer sentido em administrações passadas, e caracteriza-se por um desejo forte, por vezes violento, de consumir a droga.

Exemplos de opioides

Há opioides naturais, derivados do ópio e sintéticos e semissintéticos.

Opioides naturais ou fisiológicos

Regulam as sensações de dor e são importantes nos sistemas analgésicos endógenos:

As comidas picantes (com pimenta) contém capsaicina, um agonista de receptores de dor na língua. A activação da vias da dor leva à activação do sistema fisiológico analgésico com libertação quantidades moderadas de endorfinas. O prazer de comer comidas picantes é devido à sensação de bem estar que as endorfinas produzem.

Opioides derivados do ópio

A morfina geralmente constitui 8% a 14% do peso do ópio seco. Os outros opioides são derivados dela, sendo obtidos por reações químicas relativamente simples.

Outros opioides ou agonistas dos receptores opioides

A maioria é sintética:

Agonistas parciais e agonistas-antagonistas mistos

Possuem comportamento misto apresentando atividade antagonista para determinados receptores enquanto apresentam atividade agonista em outros

Antagonistas opioides

São fármacos que têm o efeito de bloquear os receptores opioides, impedindo opioides endógenos ou administrados de actuar.

História

O maior representante desse grupo é o ópio, uma mistura de vários opioides, dos quais o mais importante é a morfina, extraído das sementes das papoulas roxas. Ele é conhecido desde a antiguidade e é então usado na medicina e como droga de abuso nos países orientais (principalmente China).

Só em 1803 Serturner isolou o alcaloide morfina a partir do ópio. O nome da morfina foi-lhe atribuído em honra do deus grego Morfeu, o deus do sono. Apesar de ser o mais antigo opioide a morfina ainda é dos mais usados.

No século XIX houve várias guerras entre a Inglaterra (Reino Unido) e a China devido ao ópio. A Inglaterra procurava proteger o lucrativo negócio dos seus traficantes de ópio, o qual era produzido nas suas colónias, enquanto a China queria quebrar a dependência da sua economia e do seu povo aos poderosos efeitos do ópio enquanto droga recreativa. Estas Guerras do Ópio foram ganhas pela Inglaterra.

Hoje em dia a droga opiácea mais utilizada é a heroína. Esta droga, derivada quimicamente da morfina extraída do ópio, é proibida em todos os países devido à sua tendência a conduzir à toxicodependência profunda.

Referências

  1. Kapoor L (1995). Opium Poppy: Botany, Chemistry, and Pharmacology. United States: CRC Press. 164 páginas. ISBN 1-56024-923-4