Pragmática

Gramática
Classificação
Comunicação
Fonética
Fonologia
Morfologia
Sintaxe
Semântica
Etimologia
Estilística
Literatura
Tipos
Descritiva
Gerativa
Formal
Funcional
Normativa
Transformacional
Universal
Implícita
Contrastiva
Reflexiva
Histórica
Artigos Relacionados
Gramática
Linguística
Lexicologia
Retórica
Língua
Diagrama esclarecedor e redutor dos níveis de análise linguística segundo Paulo Nunes da Silva.

Pragmática é o ramo da linguística que estuda a linguagem no contexto de seu uso na comunicação. É o estudo de como o contexto contribui para o significado. O campo de estudo avalia como a linguagem humana é utilizada nas interações sociais, bem como a relação entre o intérprete e o interpretado. A pragmática está além da construção da frase, objeto da sintaxe, ou do seu significado, objeto da semântica. A pragmática estuda essencialmente os objetivos da comunicação.

A pragmática engloba fenômenos incluindo implicatura, atos de fala, relevância e conversação, bem como comunicação não-verbal. As teorias da pragmática andam de mãos dadas com as teorias da semântica, que estuda aspectos do significado, e da sintaxe, que examina estruturas, princípios e relacionamentos das frases. A capacidade de entender o significado pretendido por outro falante é chamada de competência pragmática. A pragmática surgiu como seu próprio subcampo na década de 1950 após o trabalho pioneiro de J. L. Austin e Paul Grice.

As palavras, em sua significação comum, assumem muitas vezes outros significados distintos no uso da língua e, mais recentemente, o campo de estudo da pragmática passou a englobar o estudo da linguagem comum e o uso concreto da linguagem, enquanto a semântica e a sintaxe constituem a construção teórica. A pragmática, portanto, estuda os significados linguísticos determinados não exclusivamente pela semântica proposicional ou frásica, mas aqueles que se deduzem a partir de um contexto extralinguístico: discursivo, situacional, etc..

A capacidade de compreender a intenção do locutor é chamada de competência pragmática. Como exemplo, suponha uma pessoa queira fazer uma segunda pessoa não fumar numa sala. Pode simplesmente dizer, de uma forma muito direta: "Pode deixar de fumar, por favor?". Ou, em alternativa, pode dizer: "Huumm, esta sala precisa de um purificador de ar". Repare que a palavra 'fumo' ou 'fumar' não é utilizada, mas indiretamente revela a intenção do locutor.

Conceituação teórica

A pragmática foi uma reação à linguística estruturalista delineada por Ferdinand de Saussure . Em muitos casos, ampliou sua ideia de que a linguagem tem uma estrutura analisável, composta de partes que podem ser definidas em relação a outras. A pragmática primeiro se engajou apenas no estudo sincrônico, em oposição ao exame do desenvolvimento histórico da linguagem. No entanto, rejeitou a noção de que todo significado vem de signos existentes puramente no espaço abstrato da língua. Enquanto isso, a pragmática histórica também passou a existir. O campo não ganhou a atenção dos linguistas até a década de 1970, quando surgiram duas escolas diferentes: o pensamento pragmático anglo-americano e o pensamento pragmático continental europeu.

O uso do termo pragmática como ramo da linguística teve início com Charles Morris, em 1938, significando o estudo da linguagem em uso. Rudolf Carnap, que trabalhara com Morris em Chicago, definiu-a como sendo a relação entre a linguagem e seus falantes.

A pragmática evoluiu, depois, para uma compreensão menos filosófica, como prática social concreta, que analisa a significação linguística de acordo com a interação existente entre quem fala e quem ouve, do contexto da fala, os elementos socioculturais em uso e, também, dos objetivos, efeitos e consequências desse uso contínuo.

Coerência pragmática

É quando o texto tem que seguir uma linha de sentido, ou seja, uma sequência de atos. Não é possível o locutor dar uma ordem e fazer um pedido no mesmo ato de fala. Quando estas condições são ignoradas, constituem incoerência pragmática.

Áreas de interesse

Ambiguidade

A frase "Você tem luz verde" é ambígua. Sem conhecer o contexto, a identidade do falante ou a intenção do falante, é difícil inferir o significado com certeza. Por exemplo, pode significar:

Outro exemplo de uma frase ambígua é: “Fui ao banco”. Este é um exemplo de ambiguidade lexical, pois a palavra banco pode ser tanto em referência a um lugar onde se guarda dinheiro, quanto um banco qualquer. Para entender o que o falante está realmente dizendo, é uma questão de contexto, e é por isso que também é pragmaticamente ambíguo.

Da mesma forma, a frase "Sherlock viu o homem com binóculos" pode significar que Sherlock observou o homem usando binóculos, ou pode significar que Sherlock observou um homem que estava segurando binóculos (ambiguidade sintática). O significado da frase depende da compreensão do contexto e da intenção do falante.

Conforme definido na linguística, uma frase é uma entidade abstrata: uma sequência de palavras divorciadas do contexto não linguístico, em oposição a um enunciado que é um exemplo concreto de um ato de fala em um contexto específico. Quanto mais os sujeitos conscientes se apegam a palavras, expressões idiomáticas, frases e tópicos comuns, mais facilmente os outros podem supor seu significado; quanto mais se afastam de expressões e tópicos comuns, mais amplas são as variações nas interpretações.

Isso sugere que as frases não têm significado intrínseco, que não há significado associado a uma frase ou palavra, e que qualquer uma delas pode representar uma ideia apenas simbolicamente. O gato sentou-se no tapete é uma frase. Se alguém dissesse a outra pessoa: "O gato sentou-se no tapete", o ato é em si uma declaração. Isso implica que uma frase, termo, expressão ou palavra não pode representar simbolicamente um único significado verdadeiro; tal significado é subespecificado (que gato sentou em qual tapete?) e potencialmente ambíguo. Por outro lado, o significado de um enunciado pode ser inferido através do conhecimento de seus contextos linguísticos e não linguísticos (o que pode ou não ser suficiente para resolver a ambiguidade). Na matemática, com o paradoxo de Berry, surge uma ambiguidade sistemática semelhante com a palavra "definível".

Referências

  1. ,SILVA, Paulo Nunes da (2010)- Manual de Introdução aos Estudos Linguísticos Lisboa: Universidade Aberta.
  2. Mey, JL (2006). "Pragmática: Visão Geral" . Enciclopédia de Linguagem e Linguística . págs. 51-62. doi : 10.1016/B0-08-044854-2/00306-0 . ISBN 9780080448541.
  3. Mey, Jacob L. (1993) Pragmatics: An Introduction. Oxford: Blackwell (2nd ed. 2001). Kim, Daejin; Hall, Joan Kelly (2002). "The Role of an Interactive Book Reading Program in the Development of Second Language Pragmatic Competence". The Modern Language Journal. 86 (3): 332–348. doi:10.1111/1540-4781.00153. Masahiro Takimoto (2008) "The Effects of Deductive and Inductive Instruction on the Development of Language Learners' Pragmatic Competence", The Modern Language Journal, Vol. 92, No. 3 (Fall, 2008), pp. 369-386. Koike, Dale April (1989). "Pragmatic Competence and Adult L2 Acquisition: Speech Acts in Interlanguage". The Modern Language Journal. 73 (3): 279–289. doi:10.1111/j.1540-4781.1989.tb06364.x.
  4. Kroeger, Paul (2019). Analyzing Meaning. Language Science Press. pp. 12, 141. ISBN 978-3-96110-136-8.
  5. Coppock, Elizabeth; Champollion, Lucas (2019). Invitation to Formal Semantics (PDF). Manuscript. p. 37.
  6. a b c MARCONDES, Danilo. Desfazendo mitos sobre a pragmática (acesso da "Revista ALCEU" em janeiro de 2017)
  7. «"Pragmática na história do pensamento linguístico" (PDF) .» (PDF). web.archive.org (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2022 
  8. «What is Pragmatics». study.com. Consultado em 9 de maio de 2022 
  9. «Definition of PRAGMATICS». www.merriam-webster.com (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2022 
  10. «What are Pragmatic Language Skills? | Sensational Kids» (em inglês). 3 de março de 2018. Consultado em 9 de maio de 2022 
  11. Zimmermann, Malte (2016). "Information Structure". Linguistics. doi:10.1093/OBO/9780199772810-0130. ISBN 978-0-19-977281-0.
  12. Andrés-Roqueta, C.; Katsos, N. (2020). "A Distinction Between Linguistic and Social Pragmatics Helps the Precise Characterization of Pragmatic Challenges in Children with Autism Spectrum Disorders and Developmental Language Disorder". Journal of Speech, Language, and Hearing Research : JSLHR. 63 (5): 1494–1508. doi:10.1044/2020_JSLHR-19-00263. hdl:10234/190618. PMID 32379523. S2CID 218554970.
  13. a b c d e f Steven L. Small; Garrison W Cottrell; Michael K Tanenhaus (22 October 2013). Lexical Ambiguity Resolution: Perspective from Psycholinguistics, Neuropsychology and Artificial Intelligence. Elsevier Science. ISBN 978-0-08-051013-2. Critical Thinking, 10th ed., Ch 3, Moore, Brooke N. and Parker, Richard. McGraw-Hill, 2012. Wittgenstein, Ludwig (1999). Tractatus Logico-Philosophicus. Dover Publications Inc. p. 39. ISBN 978-0-486-40445-5.
  14. a b c d e f «What is linguistic ambiguity? - Definition from WhatIs.com». WhatIs.com (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2022 
  15. «What is pragmatics? – All About Linguistics» (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2022 
  16. "24.903 / 24.933 Language and its Structure III: Semantics and Pragmatics". MIT.edu. MIT OpenCourseWare, Massachusetts Institute of Technology. 2004. Archived from the original on April 9, 2010. Retrieved October 17, 2017.