No mundo de hoje, Psicologia intercultural tornou-se um tema de grande relevância e interesse para um amplo espectro de pessoas. De especialistas na área a pessoas comuns, Psicologia intercultural tem despertado grande interesse e gerado debate em diversas áreas. Sua importância está em Psicologia intercultural, pois impactou significativamente diversos aspectos da sociedade. Neste artigo, exploraremos mais a fundo Psicologia intercultural e analisaremos seu impacto em diferentes contextos. Desde a sua origem até à sua evolução atual, iremos mergulhar no mundo de Psicologia intercultural para compreender melhor a sua relevância e influência no mundo em que vivemos.
A psicologia intercultural, junto a antropologia e outras áreas afins, estuda o comportamento humano ao redor do mundo em sua universalidade e, ao mesmo tempo, dando a devida atenção ao comportamento individual no ambiente cultural em que ele ocorre.[1] É o estudo científico do comportamento humano e da sua transmissão, tendo presentes os modos nos quais os comportamentos são modelados e influenciados pelos valores sociais e culturais;[2] é o estudo de diferentes padrões culturais na vida mental dos seres humanos.[3]
Os estudos da psicologia intercultural buscam compreender as relações entre a cultura e o comportamento individual, tem como pressuposto que algumas variáveis que explicam o comportamento de uma pessoa deve-se à influência dos diferentes contextos socioculturais que caracterizam os distintos ambientes nos quais ela navega.[4] Uma importante distinção da psicologia intercultural de outras áreas da psicologia é o pressuposto de que a cultura é um fator contribuinte no desenvolvimento de processos psicológicos. É uma alternativa viável para a promoção de iniciativas que visem a solução do problema do etnocentrismo teórico na psicologia contemporânea.[5]
O termo intercultural refere-se a um tipo específico de interação ou comunicação entre indivíduos, onde as diferenças culturais influenciam a construção de significado. Já o termo aprendizagem intercultural está relacionado à aquisição de uma competência intercultural ampla e transferível, que pode ser aplicada em diversos contextos de contato intercultural, e não apenas em interações com uma cultura específica[6].
O campo da comunicação intercultural concentra-se na interação entre membros de diferentes grupos culturais. Uma forma de diferenciar a comunicação intercultural da psicologia intercultural é por meio dos níveis de análise. A psicologia intercultural enfatiza as características individuais em diferentes contextos culturais, enquanto a comunicação intercultural foca nos padrões normativos de grupos e sua influência na interação humana. Embora haja interseções entre as disciplinas, essa distinção reflete uma diferença fundamental no foco de cada uma.[6]
Uma das primeiras obras que marca o início dos estudos de psicologia intercultural estava voltada especificamente para a questão internacional, a “Psicologia dos povos: uma investigação sobre as leis de desenvolvimento da linguagem, mito e costume", de Wundt, entre 1900-1920. Posteriormente, Freud conectou a psicologia com a cultura em "Totem e tabu" e "O mal-estar da civilização". Então Jung, ao realizar pesquisas in loco na América, África, regiões do Oriente da Europa, buscou teorizar sobre seus conceitos de arquétipos como universais.[7]
Kraepelin também contribuiu na inauguração da psiquiatria comparada, procurando verificar a existência de uma relação entre transtornos mentais e características psicossociais que diferenciam os povos.[8] Outros autores que contribuíram foram W.H.R. Rivers, Bronislaw Malinowski, Ruth Benedict, Cora DuBois, Kardiner e Linton, Margaret Mead. Um maior interesse pela Psicologia Intercultural assim como a Educação Intercultural teve início no término da Segunda Guerra Mundial.[9]
Do término da Segunda Guerra até o que se conhece atualmente, muito foi desenvolvido em termos de Psicologia Intercultural, em especial nas décadas de 60 e 70. Houve um aumento das publicações sobre o tema no Journal of Social Psychology, foi fundado o Center for Cross-Cultural Psychology, a International Association for Cross-Cultural Psychology, a Society for Cross-Cultural Research e a International Academy of Intercultural Research.[10]
Durante esse período, mais autores surgiram com importantes contribuições para a área. Kalervo Oberg com o conceito de choque cultural; John Berry com seus modelos de interação cultural e aculturação; Harry Triandis com os conceitos de coletivismo e individualismo; Milton Bennet com o Modelo de Desenvolvimento Intercultural e David L. Sam, cujo trabalho é voltado para os aspectos clínicos da imigração, sobretudo com refugiados.[11][12][13][14][15]
No Brasil, Arrigo Angelini se tornou pioneiro dos estudos de Psicologia Intercultural e, posteriormente, Aniela Ginsberg foi considerada perita consultora de pesquisas interculturais da PUC-SP.[16][17]
Atualmente, no Brasil, Andrea S. Sebben é uma referência quando se trata de pesquisas em psicologia intercultural e educação intercultural. Tendo tido grande influência de seus antecessores, (Oberg, Bennett e Berry) aperfeiçoou seus modelos teóricos de compreensão cultural e elaborou o Polígono Migratório, dando a devida importância a todos os personagens envolvidos no processo migratório: hóspede, hospedeiro, família pregressa e moderador migratório. Este último foi sua principal contribuição científica, sua abordagem leva em consideração as agências e programas de intercâmbio e setores de Mobilidade Global de Recursos Humanos como participantes ativos no processo migratório do cliente, ao invés de meros observadores. O autoconhecimento e autoeficácia em relação a integração aos grupos são conceitos-chave trazidos, os conflitos inerentes aos processos interculturais também e assim uma nova maneira de resolvê-los.[18][19]
Cada vez mais, existe um crescimento do fenômeno da expatriação entre empresas nacionais e estrangeiras, e com isso encontram-se mais dificuldades em países estrangeiros e na Gestão de Expatriados na área de Recursos Humanos.[20] Geert Hofstede trouxe novas compreensões sobre o comportamento intercultural, apesar da crescente globalização dos mercados, aculturação de pessoas e contatos cada vez mais facilitados entre os povos, as diferenças nacionais e regionais não deixam de crescer.[21] Essas diferenças podem tornar-se um dos problemas mais importantes e cruciais para a gestão, em particular para a gestão de multinacionais e de organizações multiculturais.[22]
A psicologia intercultural permite a atuação com adaptação de brasileiros no exterior e estrangeiros no Brasil, com base na combinação entre Psicologia Intercultural e Educação Intercultural. A metodologia desenvolvida por Sebben facilita o processo de aculturação e integração, aplicada em diversos contextos, como intercambistas, executivos expatriados e profissionais do esporte, com enfoque na adaptação eficaz e sustentável em ambientes culturais variados.[18] Traz reflexões sobre o conceito de diversidade cultural nas organizações modernas, onde o termo diversidade é visto como algo positivo e enriquecedor.[23]
A psicologia intercultural tem o potencial de ser uma ferramenta significativa na resolução de diversos problemas enfrentados por sociedades em diferentes países. Entre esses problemas, incluem-se questões relacionadas a imigrações internas, aculturação, urbanização, educação de massas, programas de saúde pública, planejamento familiar, planejamento educacional, telecomunicações, violência urbana, relações internacionais, conflitos religiosos, conflitos raciais, pobreza e privação cultural. Muitas dessas questões são marcadas por conflitos que surgem de diferentes percepções do mundo ou pela busca pela preservação de traços culturais e étnicos.[24]
A psicologia intercultural tem como objetivos:[25]
A psicologia intercultural é aplicada no desenvolvimento de currículos que promovem a compreensão intercultural e reduzem o preconceito.[26] No âmbito corporativo, as teorias interculturais ajudam a gerir equipes multiculturais e a nortear negociações globais.[27]
“O executivo multicultural sabe se comportar em qualquer país, recebe bem em sua terra natal, é curioso, criativo e um grande negociador, habilidades que são desenvolvidas a partir do treinamento intercultural, que educa a sensibilidade do executivo.” — Andréa Sebben, 2005[28]
Alguns profissionais utilizam da compreensão intercultural para adaptar terapias e abordagens psicoterapêuticas culturalmente apropriadas.[29] A área também se preocupa com migrantes e refugiados e sua adaptação em novos ambientes culturais.[30]
Sebben enfatiza a importância de compreender as diferenças culturais para promover a empatia e reduzir o preconceito. Aborda a psicologia intercultural como uma ferramenta para a adaptação de indivíduos em novos contextos culturais, o que se torna relevante em situações de migração. Defende que o desenvolvimento de competências interculturais pode enriquecer tanto o crescimento pessoal quanto profissional dos indivíduos, capacitando-os a trabalhar em ambientes diversos e a enfrentar desafios culturais com maior flexibilidade e adaptação.[28]
Um Treinamento Intercultural pode ser definido como um programa que se propõe a capacitar indivíduos para viver, trabalhar, estudar ou morar em lugares culturalmente diversos do seu.[31] Existem, atualmente, alguns modelos de treinamento intercultural:[32]
No modelo cognitivo o foco é a transmissão de informação sobre a cultura alheia e as técnicas frequentemente utilizadas são leituras, visitas, filmes, vídeos e estudos de caso.[33] Porém, a mudança de comportamento não se dá apenas por vias racionais (às vezes, inclusive, recrudesce estereótipos e preconceitos) o que torna o modelo pouco eficaz nesse contexto.[34]
No modelo afetivo há uma ênfase desproporcional e profundamente etnocentrista trazida pelo conceito de choque cultural e a consequente perseguição de sua "diminuição" ou "minimização". O problema é anterior à ilusão de minimizá-lo, mas de aceitá-lo como verdade absoluta ou como se fosse um ente pensante, com vida própria e definitivamente presente em todas as relações interculturais.[1]
No modelo comportamental há um enfoque muito grande no ajustamento do estrangeiro/hóspede, acabando por excluir o hospedeiro e outros elementos essenciais do Polígono Migratório. Pretender ajustá-lo é a verdadeira contramão da intercultura, uma vez que dispensa seus atributos interpessoais/interculturais.[1]
Christopher Earley e Soon Ang argumentam que uma abordagem puramente comportamental ou cognitiva é insuficiente, cara e dispendioso para quem compra e para quem assiste.[35] Pois dá uma aparente e situacional satisfação em sala de aula, mas que, posterior ao portão de embarque, o conteúdo é esquecido e deixado de lado. O modelo se torna pouco eficaz caso o indivíduo não esteja profundamente motivado a mudar e capaz de transformar essa motivação em atitudes concretas.[35]
Esse modelo permite a aceitação de que a relação com culturas é algo pessoal, os treinamentos nesse modelo exercem suas atividades baseadas em ciência e pesquisa reconhecidas e não apenas no conhecimento empírico. É capaz de criar pontes entre o conhecimento científico e a prática e criar novas ideias e metodologias que promovam a Educação Intercultural. Permite a relativização de ideias, pessoas e circunstâncias, promove a capacidade de lidar com a complexidade e requer formação em psicologia intercultural e educação intercultural.[1]
Se trata de um processo que pode ser desenvolvido no país de origem, que se estende para além da sala de aula - e no caso da expatriação, um processo cujos resultados devem ser monitorados e avaliados constantemente. É um processo evolutivo e de aprendizado contínuo (mais do que a posse de um arsenal de informações sobre um país específico) que pode começar em sala de aula mas deve concretizar-se na maturidade de seus conteúdos e novas atitudes.[1]