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Nascido em uma família de Judeus poloneses não praticantes, ele e seus familiares transferiram-se para a União Soviética após a invasão e anexação da Polônia (1939) por forças alemãs.
Ao longo dos anos 1940 e 1950, Bauman foi um entusiasmado militante do Partido Operário Unificado Polaco, o partido comunista da Polônia. Segundo o Instituto da Memória Nacional da Polônia, entre 1945 e 1953 Bauman era oficial do Corpo de Segurança Interna (em polonês, Korpus Bezpieczeństwa Wewnętrznego, KBW), uma unidade militar especial formada na Polônia, sob o governo stalinista, para combater os ucranianos nacionalistas insurgentes e os remanescentes do Armia Krajowa, a principal organização da resistência da Polônia à ocupação do país, durante a Segunda Guerra.[4] Mais tarde, entre 1945 e 1948, Bauman trabalhou para a inteligência militar, embora a natureza e a extensão de suas atividades sejam desconhecidas, assim como as circunstâncias sob as quais terá abandonado tais atividades.[4]
Durante uma entrevista ao jornal The Guardian, Bauman confirmou ter sido um devotado comunista — durante e depois da Segunda Guerra — e nunca ter feito segredo disso. Admitiu que ingressar no serviço de inteligência militar aos 19 anos tenha sido um erro, apesar de só ter realizado tediosas atividades burocráticas e jamais ter dado informações sobre alguém.[5]
Enquanto servia no KBW, Bauman também estudava sociologia na Academia de Política e Ciências Sociais de Varsóvia. Mas, em 1953, já no posto de major, foi subitamente excluído do KBW — e de maneira desonrosa —, depois que seu pai se aproximou da embaixada israelense em Varsóvia, com vistas a emigrar para Israel. Uma vez que Bauman não compartilhava absolutamente das ideias sionistas do pai, sendo, de fato, francamente antissionista, sua demissão causou um severo, embora temporário, distanciamento do pai. Durante o período em que ficou desempregado, decidiu completar seu mestrado e, em 1954, tornou-se professor assistente na Universidade de Varsóvia, onde permaneceu até 1968. Inicialmente, Bauman se manteve próximo à ortodoxia marxista mas, influenciado por Antonio Gramsci e Georg Simmel, tornou-se crescentemente crítico ao governo comunista da Polônia. Passaria então a trabalhar, com outros acadêmicos da Universidade, numa concepção humanista do marxismo. De todo modo, Bauman sempre se declarou Socialista e, nos seus últimos anos de vida, dizia que, mais do que nunca, o socialismo é necessário ao mundo.[3]
Submetido a uma crescente pressão política, conectada ao expurgo conduzido por Mieczysław Moczar, chefe do Służba Bezpieczeństwa, o Serviço de Segurança polonês, Bauman renunciou à sua filiação ao Partido Operário Unificado em janeiro de 1968. Os eventos de março de 1968 na Polônia culminaram com um expurgo que levou muitos comunistas poloneses de ascendência judia a sair do país. Bauman, que havia sido demitido da Universidade de Varsóvia, estava entre eles. Para deixar o país, teve que abdicar de sua cidadania polonesa. Primeiramente foi para Israel, para lecionar na Universidade de Tel Aviv. Em 1971, aceitou um convite para ensinar sociologia na Universidade de Leeds. Desde então, seus trabalhos passaram a ser publicados quase que exclusivamente em inglês, e sua reputação cresceu exponencialmente.
Em 2011, durante entrevista concedida ao semanário polonês Polityka, Bauman criticou Israel e o sionismo, dizendo que Israel não estava interessado na paz mas somente em "se aproveitar do Holocausto para legitimar atos inadmissíveis". Comparou o Muro da Cisjordânia aos muros do Ghetto de Varsóvia, onde centenas de milhares de judeus morreram. O embaixador israelense em Varsóvia, Zvi Bar, qualificou os comentários de Bauman como "meias verdades" e "generalizações infundadas".[6]
Pensamentos
De acordo com Bauman, nos tempos atuais, as relações entre os indivíduos nas sociedades tendem a ser menos frequentes e menos duradouras. Uma de suas frases poderia ser traduzida, na língua portuguesa, como "as relações escorrem pelo vão dos dedos". Segundo o seu conceito de "relações líquidas", formulado, por exemplo, em Amor Líquido, as relações amorosas deixam de ter aspecto de união e passam a ser mero acúmulo de experiências,[7] e a insegurança seria parte estrutural da constituição do sujeito pós-moderno, conforme escreve em Medo Líquido.[8] Bauman é frequentemente descrito como um pessimista, na sua crítica à Pós-Modernidade.[9] De fato, enquanto os cientistas, poetas e artistas da mainstream empenham-se na exaltação das virtudes do Capitalismo. O Capitalismo caminhando juntamente com o consumo demasiado o chamado Consumismo consequentemente acarretando á degradação, devastação ambiental e grande emissão de gases poluentes, ele se insere na contracorrente, procurando expor a face desumana do capital[3] indo além do que Karl Marx observou na época um verdadeiro fetiche pelo consumo, criou-se um fetiche pelas marcas, deixando de importar o produto em si, mas a sua fabricante e o seu preço. O sujeito é Objetificado pelo Capitalismo, tornando-se apenas o que ele consome, e não mais o que ele é. Na lógica da modernidade líquida, o sujeito é aquilo que ele consome. Refletindo também juntamente com Rein Raud (Escritor e Doutor em teoria literária) e sobre a insignificância humana.[10]
Prêmios
Bauman recebeu os prêmios Amalfi (1989), por sua obra Modernidade e Holocausto) e Adorno (1998), pelo conjunto de sua obra.
1965: Wizje ludzkiego świata. Studia nad społeczną genezą i funkcją socjologii . Warszawa: Książka i Wiedza.
1966: Kultura i społeczeństwo. Preliminaria . Warszawa: Państwowe Wydawnictwo Naukowe.
1972: Between Class and Elite. The Evolution of the British Labour Movement. A Sociological Study. Manchester: Manchester University Press ISBN 978-0-7190-0502-2 (Polish original 1960)
1976: Socialism: The Active Utopia. New York: Holmes and Meier Publishers. ISBN 0-8419-0240-2
1976: Towards a Critical Sociology: An Essay on Common-Sense and Emancipation. London: Routledge & Kegan Paul. ISBN 0-7100-8306-8
1978: Hermeneutics and Social Science: Approaches to Understanding. London: Hutchinson. ISBN 0-09-132531-5
1982: Memories of Class: The Pre-history and After-life of Class. London/Boston: Routledge & Kegan Paul. ISBN 0-7100-9196-6
c1985Stalin and the peasant revolution: a case study in the dialectics of master and slave. Leeds: University of Leeds Department of Sociology. ISBN 0-907427-18-9
1987: Legislators and interpreters - On Modernity, Post-Modernity, Intellectuals. Ithaca, N.Y.: Cornell University Press. ISBN 0-8014-2104-7
1989: Modernidade e Holocausto (Modernity and The Holocaust. Ithaca, N.Y.: Cornell University Press 1989. ISBN 0-8014-2397-X). Traduzido por Marcus Penchel. Jorge Zahar Editor ISBN 85-7110-483-2
1990: Paradoxes of Assimilation. New Brunswick: Transaction Publishers.
1990: Thinking Sociologically. An introduction for Everyone. Cambridge, Mass.: Basil Blackwell. ISBN 0-631-16361-1
1991: Modernidade e Ambivalência (Modernity and Ambivalence. Ithaca, N.Y.: Cornell University Press. ISBN 0-8014-2603-0). Traduzido por Marcus Penchel. Jorge Zahar Editor ISBN 978-85-7110-494-5
1997: O Mal-Estar da Pós-Modernidade (Postmodernity and its discontents. New York: New York University Press. ISBN 0-7456-1791-3). Traduzido por Luís Carlos Fridman. Jorge Zahar Editor ISBN 978-85-7110-464-8
1998: Work, consumerism and the new poor. Philadelphia: Open University Press. ISBN 0-335-20155-5
1998: Globalização: As Conseqüências Humanas (Globalization: The Human Consequences. New York: Columbia University Press. ISBN 0-7456-2012-4). Traduzido por Marcus Penchel. Jorge Zahar Editor ISBN 978-85-7110-495-2
2001: Comunidade: A Busca por Segurança no Mundo Atual (Community. Seeking Safety in an Insecure World. Cambridge: Polity. ISBN 0-7456-2634-3). Traduzido por Plínio Dentzien. Jorge Zahar Editor ISBN 85-7110-699-1
2001: A sociedade individualizada (The Individualized Society. Cambridge: Polity. ISBN 0-7456-2506-1). Traduzido por José Maurício Gradel. Jorge Zahar Editor ISBN 8537801070
2003: Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos (Liquid Love: On the Frailty of Human Bonds. Cambridge: Polity. ISBN 0-7456-2489-8). Traduzido por Carlos Alberto Medeiros. Jorge Zahar Editor ISBN 978-85-7110-795-3
2004: Vidas Desperdiçadas (Wasted Lives. Modernity and its Outcasts. Cambridge: Polity. ISBN 0-7456-3164-9). Traduzido por Carlos Alberto Medeiros. Jorge Zahar Editor ISBN 978-85-7110-873-8
2004: Europa: Uma Aventura Inacabada (Europe: An Unfinished Adventure. Cambridge: Polity. ISBN 0-7456-3403-6). Traduzido por Carlos Alberto Medeiros. Jorge Zahar Editor ISBN 85-7110-895-1
2004: Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi (Identity: Conversations with Benedetto Vecchi. Cambridge: Polity. ISBN 0-7456-3308-0). Traduzido por Carlos Alberto Medeiros. Jorge Zahar Editor ISBN 978-85-7110-889-9
2006: Tempos líquidos (Liquid Times: Living in an Age of Uncertainty. Cambridge: Polity. ISBN 0-7456-3987-9). Traduzido por Carlos Alberto Medeiros. Jorge Zahar Editor ISBN 978-85-7110-993-3
2005: Tony Blackshaw, Zygmunt Bauman (Key Sociologists). London/New York: Routledge. ISBN 0-415-35504-4
2006: Keith Tester, Michael Hviid Jacobsen: Bauman Before Postmodernity: Invitation, Conversations and Annotated Bibliography 1953-1989. Aalborg: Aalborg University Press. ISBN 87-7307-738-0
↑PERUZZO JÚNIOR, Léo (2017). O que pensam os filósofos contemporâneos? Um diálogo com Singer, Dennett, Searle, Putnam e Bauman. Curitiba: PUCPRESS. 120 páginas