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Islamofobia é o sentimento de repugnância, satanização ou de repúdio em relação aos muçulmanos e/ou ao Islamismo em geral. Este tipo de aversão vem acontecendo principalmente nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e em Israel, seja devido aos atentados terroristas, ou à presença cada vez maior de muçulmanos nesses lugares. Os atentados terroristas são promovidos por organizações fundamentalistas, tais como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, embora este último grupo não seja apoiado pela população local. Todavia, esse sentimento já existia anteriormente, antes de ser nomeado, embora em menor grau, devido às enormes diferenças culturais e religiosas. Este tipo de discriminação aumentou exponencialmente após os ataques de 11 de setembro de 2001, ocorridos nos Estados Unidos. Por exemplo, o islã em seus primeiros momentos foi mais tolerante na Península Ibérica do que o catolicismo que depois da retirada dos praticantes da primeira fé citada, associou islamofobia ao antissemitismo em seu auge. Contudo, o Islão, tal como outras grandes religiões, também conheceu épocas em que inspirou nos seguidores ódio e violência; uma parte do mundo muçulmano atravessa atualmente um desses períodos.
O termo “islamofobia” aparece escrito pela primeira vez na França na década de 1920 como “islamophobie” e reaparece na década de 1970. No entanto, essas duas aparições do termo contam com diferenças em suas significações. A primeira se refere a disputas e diferenças dentro do Islã e a segunda, ao repúdio aos muçulmanos e ao islamismo.
Antes da existência do termo islamofobia haviam já atitudes negativas em relação ao Islã e seus simpatizantes. As atitudes de aversão surgiram logo após o aparecimento do próprio Islã, particularmente por escritores do Médio Oriente cujas instituições religiosas (por exemplo, cristãs) ou políticas (por exemplo, bizantinas) foram ameaçadas pela expansão da sociedade islâmica em toda a região. Muitos historiadores traçam as distorções estruturais do Islã representadas pela islamofobia moderna na Europa medieval. Eles apontam evidências de atitudes antimuçulmanas subjacentes tanto às Cruzadas da Idade Média, quando os governantes cristãos buscavam conquistar terras governadas por muçulmanos, quanto à Reconquista da Espanha, uma série de campanhas de estados cristãos que culminaram na captura da Península Ibérica no final do século XV. Muitos estudiosos acreditam que um catalisador chave para o desenvolvimento da islamofobia foram os estatutos de limpieza de sangre (espanhol: “pureza de sangue”) durante a Inquisição espanhola que discriminava qualquer pessoa com ascendência judaica ou muçulmana, independentemente de se terem convertido ao cristianismo. Finalmente, acredita-se que a expansão do Império Otomano na Europa (particularmente o cerco de Viena em 1683) tenha enraizado na consciência colectiva europeia a ansiedade relativamente ao poder potencial das nações islâmicas.
De acordo com a Enciclopédia da Raça e Estudos Étnicos, os meios de comunicação social têm sido criticados por perpetrarem islamofobia; a professora inglesa Elizabeth Poole cita um estudo de caso onde, ao analisar uma amostra de artigos na imprensa britânica de entre 1994 e 2004, conclui que os muçulmanos estavam sub-representados, e mostrados sob um foco negativo. Esses retratos, de acordo com Poole, incluem a imagem do Islamismo e os muçulmanos como uma ameaça à segurança do Ocidente e aos valores sociais desta parte do planeta. Benn e Jawad escreveram que a hostilidade contra o Islã e os muçulmanos estão "intimamente ligadas aos meios de comunicação social que retratam o Islã como bárbaro, irracional, primitivo e sexista." Egorova e Tudor citam os pesquisadores europeus, em que sugere que expressões utilizadas nos meios de comunicação social como "terrorismo islâmico", "bombas islâmicas" e "violento Islã" já resultaram em uma percepção negativa do Islã.
Contudo, uma pesquisa efectuada pela ICM, para o canal britânico Channel4, com entrevistas presenciais a mil muçulmanos, chegou a conclusões preocupantes sobre as opiniões da comunidade muçulmana na Grâ Bretanha: um quarto dos entrevistados tinha alguma simpatia pelos bombistas suicidas, mais de metade achava que a homossexualidade não devia estar legalizada, e 39% achava que as esposas deveriam obedecer sempre aos maridos. Também o Estudo Casey (Casey Review) chegou a conclusões alarmantes sobre a comunidade muçulmana no Reino Unido; caberá também aos membros da comunidade modificar esse estado de coisas. Vários autores assinalam o profundo desprezo dos muçulmanos, em geral, pela civilização ocidental, mesmo após a segunda ou terceira geração de imigrantes. A feminista alemã Alice Schwarzer comenta: "Os direitos humanos são universalmente válidos e indivisíveis, independentemente da cultura e da religião". A propósito da situação das mulheres muçulmanas na Alemanha, queixa-se: "Qualquer denúncia de abuso é imediatamente rotulada de racismo"
Diversas iniciativas vêm surgindo com base nas sessenta recomendações enumeradas no relatório do Runnymede Trust, que visa aumentar participação muçulmana nos meios de comunicação e na política. Logo após a liberação do relatório Runnymede, foi criado o Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha para servir como uma organização guarda-chuva com o objetivo de "representar os muçulmanos na esfera pública, o lobby no governo e outras instituições." O "Fórum Contra o Racismo e a Islamofobia" (FAIR), também foi criado, destinado a acompanhar a cobertura nos meios de comunicação e estabelecer um diálogo com organizações da mídia.
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Na sequência da controvérsia dos caricaturas de Maomé, publicadas pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, um grupo de 12 escritores, incluindo o romancista Salman Rushdie, assinou um manifesto intitulado "Juntos Contra o Novo Totalitarismo" no jornal satírico francês Charlie Hebdo, alertando contra o uso do termo islamofobia para Impedir a crítica do "totalitarismo islâmico". Escrevendo no Novo Humanista, o filósofo Piers Benn sugere que as pessoas que temem o surgimento da islamofobia promovem um ambiente "não intelectualmente ou moralmente saudável", a ponto de que o que ele chama de "fobia à islamofobia" poder minar "o escrutínio crítico do Islão (...)".
Alan Posener e Alan Johnson escreveram que, embora a ideia de islamofobia seja por vezes mal utilizada, aqueles que afirmam que o ódio dos muçulmanos é justificado como a oposição ao islamismo realmente minam a luta contra o islamismo. O escritor Kenan Malik, ressalta que a noção de "islamofobia" é frequentemente usada "não para destacar o racismo, mas para silenciar os críticos do Islão ou mesmo os muçulmanos que lutam pela reforma das suas comunidades".
Para o filósofo Jason Stanley, entre as características do fascismo norte-americano estão a desumanização de "segmentos da população, o “outro”, como imigrantes latinos, muçulmanos, o que ajuda a justificar o tratamento destes grupos, e "criar um problema, como uma crise de imigração fictícia e unificar um grupo em torno do combate à invasão de estrangeiros".
Roger Kimball argumenta que a palavra "islamofobia" é inerentemente uma proibição ou medo de criticar o islamismo radical. De acordo com Pascal Bruckner, o termo foi inventado pelos fundamentalistas iranianos no final dos anos 1970, de modo análogo à "xenofobia" para denunciar como racismo o que ele sente ser uma crítica legítima do Islão. O autor Sam Harris, embora denuncie o fanatismo, o racismo e os preconceitos contra muçulmanos ou árabes, rejeita o termo islamofobia como um distúrbio psicológico inventado e afirma que criticar essas crenças e práticas islâmicas que ele acredita que representam uma ameaça para a sociedade civil, não é uma forma de fanatismo ou racismo. Da mesma forma, Pascal Bruckner chama o termo "uma invenção inteligente porque equivale a fazer do Islão um assunto que não se pode tocar sem ser acusado de racismo".
Na Austrália, Nick Haslam, professor de psicologia da Universidade de Melbourne, e Clive Kessler, professor de sociologia da Universidade de Nova Gales do Sul, disseram que o termo islamofobia é usado para demitir opiniões que as pessoas não gostam, invalidando as pessoas que detêm essas opiniões. O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, disse em janeiro de 2015, após o tiroteio de Charlie Hebdo: "É muito importante deixar claro para as pessoas que o Islã não tem nada a ver com o Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Há um preconceito na sociedade sobre isso, mas por outro lado recuso-me a usar o termo "islamofobia", porque aqueles que usam esta palavra estão a tentar invalidar qualquer crítica a toda a ideologia islâmica. A acusação de "islamofobia" é usada para silenciar as pessoas ".
Escrevendo em 2008, Ed Husain, ex-integrante do Hizb ut-Tahrir e co-fundador de Quilliam, disse que sob a pressão dos extremistas islâmicos, a "islamofobia" tornou-se um fenômeno a par do racismo ".
Christopher Hitchens afirmou que o "termo estúpido - islamofobia - foi posto em circulação para tentar sugerir que um preconceito sujo espreita atrás de qualquer dúvida sobre a infalível "mensagem" do Islã."
Michel Houellebecq, escritor francês, em 2002 chamou o Islão de "a mais estúpida das religiões". Imediatamente processado, foi absolvido em nome da liberdade de expressão. Foi aceite o argumento de Houellebecq durante o processo, de que ao chamar o islão de estúpido, o autor estaria a opôr-se a uma religião e não aos seus seguidores. Contudo, o escritor ampliou sua crítica às religiões monoteístas em geral: "Os textos monoteístas fundamentais não pregam nem a paz, nem o amor, nem a tolerância. Desde o início, eram textos de ódio".
Para Pascal Bruckner, romancista e ensaísta francês, o conceito de islamofobia, "modelado com base no da xenofobia, tem como objetivo fazer do Islã um objeto intocável, sob pena de ser acusado de racismo. Essa criação, digna das propagandas totalitárias, mantém uma confusão deliberada entre uma religião, um sistema religioso específico, e os fiéis de todas as origens que aderem a ela. "E acrescenta que, "até prova em contrário, temos o direito, num regime democrático, de julgar as religiões falsas e retrógradas e de não gostar delas". Bruckner anota que também já tivemos motivo para recear, em outras épocas, o catolicismo.