Matias Aires

Matias Aires
Matias AiresGravura de 1777 representando Matias Aires
Nome completo Matias Aires Ramos da Silva de Eça
Escola/Tradição: Barroco
Pessimismo
Iluminismo
Filosofia luso-brasileira
Data de nascimento: 27 de março de 1705
Local: Estado do Brasil, SP
Morte 11 de abril de 1768 (63 anos)
Local: Lisboa, Portugal
Principais interesses: Filosofia, vaidade, humanidade, direito civil, arquitetura, ética, sabedoria, amor, latim, hebraico, francês
Religião Catolicismo
Ideias notáveis Reflexões sobre a Vaidade dos Homens
Vaidade como essência radical do homem e do mundo,
Separação entre ordem da natureza e ordem histórica,
As virtudes surgem da vaidade
Vaidades positivas e negativas
Influências: François de La Rochefoucauld,
Salomão,
Jean de La Bruyère,
Vauvenargues,
Blaise Pascal,
Jacques Bossuet

Matias Aires Ramos da Silva de Eça (Capitania de São Paulo, 27 de março de 1705Lisboa, 10 de dezembro de 1763) foi um filósofo, Cavaleiro da Ordem de Cristo e escritor português, ou luso-brasileiro, por ter nascido no Brasil Colonial, parte do Reino de Portugal. É patrono da cadeira 6 da Academia Brasileira de Letras, irmão de Teresa Margarida da Silva e Orta, considerada a primeira mulher romancista em língua portuguesa.

Escreveu ensaios filosóficos em francês, latim e foi também tradutor de clássicos latinos. É considerado por muitos o maior nome da Filosofia de Língua Portuguesa do século XVIII.

Biografia

Filho de José Ramos da Silva e de sua mulher Catarina de Orta, nasceu em São Paulo, na então capitania de São Paulo.

Foi cavaleiro da Ordem de Cristo e provedor da Casa da Moeda de Lisboa, obtendo e sucedendo neste emprego a seu pai, José Ramos da Silva, por sua morte. Nesta realidade é que surgiu o pai de Matias Aires, José Ramos da Silva, provedor das expedições que encontraram ouro nas Gerais. O escritor Alceu Amoroso Lima, na introdução ao livro de Matias Aires, faz o seguinte comentário: “A figura de José Ramos da Silva, e a sua ascensão de criado de servir a magnata máximo da fortuna paulista do século XVIII, tornou-se um dos tipos mais representativos do Brasil Colonial.” Bafejado pela sorte, este novo rico passou a ser um grande mecenas para os Jesuítas de São Paulo, construindo igrejas, mandando vir de Portugal mestres de obras, santeiros, talhadores e douradores, enfim, dando todo o apoio aos conventos e colégios da Ordem. Foi neste ambiente que nasceu.

Matias Aires foi educado no colégio jesuíta de São Paulo, onde aprendeu a ler e escrever em português e latim, também estudando os clássicos e os rudimentos de religião e filosofia. Quando tinha onze anos, seu pai resolveu transferir-se para Lisboa. Como homem prático que era e através dos bons contatos com os jesuítas que desfrutavam de grande prestígio junto a D. João V, foi José Ramos designado para exercer o cargo de Provedor das Casas de Fundição, uma das mais altas e lucrativas funções do Reino.

Preocupado com a educação dos filhos, ao chegar a Portugal, matriculou as duas meninas no Convento de Odivelas e Matias no tradicional e conceituado Colégio de Santo Antão. Terminado os estudos secundários, ingressa na Faculdade de Direito de Coimbra, em 1722, recebendo no ano seguinte o grau de Licenciado em Artes, graduando-se mais tarde na cidade de Baiona, na Galiza. Foi Bacharel em Filosofia pela Faculdade de Ciências e Mestre em Artes pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em Paris obtém o duplo diploma em Direito Civil e em Direito Canónico.

Em 1728, decide ir para Paris, matriculando-se na Sorbonne onde, além de continuar o curso de Direito, estuda ciências naturais, matemática e hebraico, seguindo as grandes linhas de preocupação da época - o empirismo de Locke, o racionalismo de Rousseau e as ciências matemáticas e físicas com nascente prestígio sob a influência de Newton. Foram seus contemporâneos neste período francês pensadores como Voltaire e Montesquieu.

Volta a Portugal em 1733 e continua suas leituras no isolamento de suas Quintas. Tornou-se notável literato e naturalista e grande amigo do malogrado António José da Silva, o Judeu, que procurou ardentemente salvar da fogueira, o que não conseguiu.

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. A Sorbonne Université, em Paris, onde estudou Matias Aires.

Retorno a Portugal

Em 1743, com a morte do pai, o substitui nas funções e passa a residir em Lisboa, frequentando, na ocasião, os altos salões da Corte. Adquire para morar o Palácio do Conde de Alvor, uma monumental residência, conhecida hoje, em Lisboa, como o Solar das Janelas Verdes, onde funciona o grandioso Museu de Arte Antiga. Com a morte de D. João V, sobe ao trono português D. José I. É para este monarca que Matias Aires dedica o seu célebre livro, ''Reflexões sobre a Vaidade dos Homens'', que tem como subtítulo ''Discursos Morais sobre os efeitos da Vaidade, oferecidos ao – Rei Nosso Senhor D. José I". A 1ª edição data de 1752'.

Regressado a Portugal, leva uma vida suntuosa, em que os bens do pai vão sendo progressivamente dilapidados. E, por este motivo, inicia uma pendência contra a irmã, Teresa Margarida, disputando o seu direito à herança.

Herdeiro do vínculo, após a morte do pai, Matias Aires sucede-lhe também no cargo de Provedor da Casa da Moeda. Tenta então uma nova pendência contra a irmã, mais uma vez sem sucesso. Posteriormente, com as reformas introduzidas na administração portuguesa pelo Marquês de Pombal, Matias Aires é destituído do cargo e, em 1761, recolhe-se à sua Quinta na Corujeira e falece no ano de 1763.

Produção intelectual

Rei D. João V, contemporâneo de Matias.

Segundo Carvalho dos Reis (2019), o pai de Matias, homem ambicioso, foi para Portugal com o objetivo de conquistar a nobilitação: o último degrau da hierarquia da vaidade social. Com este objetivo, no ano de 1716, acomodou-se com tanta pompa quanta a ambição, procurando reconduzir a si os holofotes de Lisboa. Todavia, não encontrou a mesma sorte que no Brasil (Aires: 2005, p.218, apud CARVALHO REIS), pelo contrário, foi recebido com inimizade. O mesmo se terá passado com o filho Matias, igualmente habituado à deferência com que era tratado no Brasil, «agora, era apenas o filho de um dos tais mineiros que o povo da corte invejava, mas não estimava». Estas experiências terão ensinado, posteriormente, ao filho que a vaidade própria tende a ofender a alheia dando início ao seu interesse e reflexões sobre a Vaidade.

Esta reflexões foram publicadas em 1752: Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, onde o autor tece suas ponderações a partir do trecho bíblico extraído do Eclesiastes: Vanitas vanitatum et omnia vanitas, ou seja, "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade".

Este período de grande produtividade corresponde também a uma fase de maior recolhimento, sem dúvida induzido pelas crescentes dificuldades econômicas mais do que por um genuíno desgosto com a vida em sociedade em Portugal, e ao progressivo adensamento de uma misantropia e de um ceticismo que se revelam inclusive na relação com a obra. Sua linguagem é clara e inspirada em Vauvenargens. Aliás, Reflexões sobre a vaidade dos homens, do primeiro filósofo moralista brasileiro, apresenta inúmeros exemplos, em linguagem clara e fluente, em que os períodos compostos por subordinação raramente assumem estrutura labiríntica, o que parece decorrência da feição sentenciosa da sua frase: muitas orações ou períodos simples de Matias Aires são verdadeiras máximas. Além disso, conforme Prado Coelho, Matias não tinha ao seu dispor palavras como pensador, moralista, pessimista - que hoje servem para o caracterizar. Esse é um problema de língua, do século XVIII.

Seguem as estas, Philosofia rationalis (Filosofia Racional); Via ad campum sophie seu physicae subterranae (O caminho para o campo da sabedoria ou da física subterrânea); Lettres bohémiennes (Cartas boêmias); Discours panégyriques sur la vie de Joseph Ramos da Silva (Discursos Panegíricos sobre José Ramos da Silva); Discurso congratulatório pela felicíssima convalescença e real vida d’el rei D. José; Carta sobre a fortuna; e Problema de Arquitectura Civil, único texto, dentro deste último grupo, que subsistiu até aos dias atuais. Deixou trabalhos sobre as ações de Alexandre e César e traduções de Quinto Curcio e Lucano. Aos poucos opta por abandonar a língua materna na redação dos seus escritos, anunciada no prólogo das Reflexões e de facto levada a efeito nas edições subsequentes, utilizando-se de outra grafia, e experienciando principalmente uma profunda descrença relativamente ao mérito intrínseco de suas composições (caracterizadas como meros esboços inconclusos) e o profundo desencanto quanto à sua capacidade para influenciar e agir sobre a realidade. Em 1761, as desinteligências como o Marquês de Pombal conduzem ao seu afastamento do cargo de Provedor, o que se reflete sobre a sua já premente situação econômica. E neste contexto que escreve a um amigo a muito pessimista a Carta sobre a Fortuna, desde 1778 habitualmente incluída nas edições de as Reflexões. Eis um trecho da Carta sobre a Fortuna incluída nas Reflexões a partir de 1778: