Tique (mitologia)

Tique
deusa da fortuna e prosperidade

Tique de Antioquia, cópia romana de um original em bronze feito por Eutiquides, Galleria dei Candelabri, Museus Vaticanos

Tique (em grego: Τύχη, transl. Tykhe, "sorte"), nos antigos cultos gregos, era a divindade tutelar responsável pela fortuna e prosperidade de uma cidade, seu destino e sorte — fosse ela boa ou ruim. Sua equivalente na mitologia romana era Fortuna.

O historiador grego Stylianos Spyridakis expressou de maneira concisa a atração de Tique para o mundo helenístico, repleto de violência arbitrária e reveses desprovidos de significado: "Nos anos turbulentos dos epígonos de Alexandre, uma percepção da instabilidade dos assuntos humanos levou as pessoas a acreditarem que Tique, a amante cega da Fortuna, governava a humanidade com uma inconstância que explicava as vicissitudes da época." Durante o período helenístico era comum que cada cidade venerasse sua própria versão icônica específica de Tique, vestindo uma coroa mural (uma coroa com o formato das muralhas da cidade). Na literatura estas versões recebiam diversas genealogias diferentes, por vezes como filha de Hermes e Afrodite, ou consideradas uma das Oceânides, filhas de Oceano e Tétis, ou Zeus Píndaro. Era associada a Nêmesis e Agatodemon ("bom espírito"), e venerada em Itanos, na ilha de Creta, como Tyche Protogeneia, associada à Protogenia ("primogênita") ateniense, filha de Erecteu, cujo auto-sacrifício salvou a cidade.

Em Alexandria, o Tiqueão (Tykhaeon), templo de Tique, foi descrito por Libânio como um dos mais magníficos de todo o mundo helenístico.

Tique aparece em diversas moedas nos três séculos que antecedem o nascimento de Cristo, especialmente nas cidades ao redor do mar Egeu. Mudanças imprevisíveis da fortuna são a força-motriz nas complicadas tramas dos romances helenísticos, como Leucipe e Clitofonte ou Dáfnis e Cloé. Seu culto experimentou um ressurgimento durante outro período de mudanças turbulentas, os últimos dias do paganismo sancionado pelas autoridades, no fim do século IV, entre o reinado dos imperadores romanos Juliano e Teodósio I, que fechou definitivamente os templos. A eficácia de seu caprichoso poder alcançou respeitabilidade até mesmo nos círculos filosóficos da época, embora entre os poetas fosse um lugar-comum insultá-la como uma meretriz inconstante. Existiam templos dedicados a ela em Cesareia Marítima, Antioquia, Alexandria e Constantinopla.

Tique no reverso de moeda cunhada por Gordiano III, 238-244 d.C.

Na arte medieval era representada portando uma cornucópia, um timão emblemático e a Roda da Fortuna; por vezes é representada sobre esta roda, presidindo sobre todo o círculo do destino. Na arte greco-budista de Gandara, Tique tornou-se intimamente associada à deusa budista Hariti .

O historiador grego Políbio acreditava que, sempre que não se descobrisse as causas de determinados eventos, tais como enchentes, secas ou geadas, estas causas podiam ser atribuídas com justiça a Tique.

A constelação de Virgem por vezes é identificada como a figura celestial de Tique, bem como outras deusas como Deméter e Astreia.

Na peça de Sófocles sobre Édipo, quando perguntam em qual deidade ele acredita, Édipo responde que Tique, naquela época sinônimo de acaso, ou acaso divino.

Referências

  1. Spyridakis, "The Itanian cult of Tyche Protogeneia", Historia: Zeitschrift für Alte Geschichte 18.1 (Janeiro de 1969:42-48) p. 42.
  2. Apontado por Spyridakis, que demonstrou que as sugestões anteriores de uma fonte na Fortuna Primigenia de Preneste era anacronística.
  3. Libânio, em Progymnasmata 1114R, mencionado em Spyridakis 1969:45.
  4. C. M. Bowra, "Palladas on Tyche" The Classical Quarterly New Series, 10.1 (Maio de 1960:118-128).
  5. Políbio: "A Ascensão do Império Romano", páginas 29, Penguin, 1979.
  6. DK Multimedia: Eyewitness Encyclopedia, Stardome, Virgo: miscellaneous section
  7. Resenha por Pedro Paulo Abreu Funari de Édipo Rei de Sófocles de Trajano Vieira http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742008000100016